Reconversão é caminho à indústria da região na crise
Do Diário do Grande ABC
A crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus tem exigido reposicionamento das empresas para garantir sua sobrevivência, especialmente na indústria. Uma das propostas para viabilizar a adaptação aos novos tempos é a reconversão industrial, que, embora ainda não tenha muitos exemplos no País, mostra-se como opção viável. Agregar outros produtos no mesmo parque fabril conforme a demanda é uma maneira de garantir a atividade das fábricas, ao reduzir a ociosidade e manter os empregos. Levantamento do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) mostra que pelo menos 31 empresas – que empregam em torno de 5.000 pessoas – se interessaram pelo tema.
A entidade, que representa os trabalhadores de São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, começou a fazer mapeamento para levantar o interesse das companhias na discussão. “Na nossa base, isso teria potencial para crescer muito, já que a sondagem foi feita com empresas ‘mais próximas’ e poderia avançar em outras bases, como os químicos e os têxteis, por exemplo”, afirmou o diretor de políticas industriais da entidade, Wellington Messias Damasceno.
O tema foi explorado em nota técnica publicada na 13ª Carta de Conjuntura do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), que foi divulgada ontem.
Damasceno, que também é advogado e pós-graduado em direito e relações do trabalho foi responsável pela elaboração do texto, aponta que o assunto não é novo aqui no Brasil, e que é pautado há anos por sindicatos e associações como forma de frear o processo de desindustrialização. Porém, agora o processo pode ainda salvar vidas.
“Infelizmente, não só o Grande ABC, mas todo o País perdeu um pouco o timing para a reconversão. Lá em abril e março a pauta tinha muita força e um apelo de reconverter as empresas que estavam paradas naquele momento. Havia uma capacidade de produção disponível para usar com insumos e equipamentos hospitalares, por exemplo”, afirmou Damasceno. “Se o processo tivesse sido mais ágil, hoje nós teríamos mais equipamentos, e isso impactaria no número de mortos. Mas continuamos insistindo no assunto, porque ainda é uma oportunidade de salvar vidas e proteger profissionais da área”, completou.
Damasceno pontuou algumas áreas que podem ser exploradas pelas empresas no processo. Além da saúde, com a fabricação de itens demandados em hospitais, ele cita setores estratégicos, como infraestrutura, energia e alimentação. “O setor automotivo vai demorar a se recuperar, e muitas empresas podem não sobreviver somente com esse produto”, afirmou ele, ressaltando principalmente as pequenas e as médias como as que podem ser as mais afetadas.
Entrave
O principal entrave é o crédito, que não chega, destaca o sindicalista. Muitas empresas relatam dificuldades no acesso, e é necessário um investimento para a mudança. “A empresa também não tem segurança para fazer a reconversão industrial e, se não há garantias, é muito difícil. Tivemos várias iniciativas em universidades que não avançaram, ou seja, também faltou articulação do poder público”, disse Damasceno.
Nacionalizar produção é saída urgente
Além da reconversão, a nacionalização da produção dos componentes industriais também é uma demanda antiga, que se torna ainda mais urgente agora. O assunto é discutido junto a entidades do setor e pode ajudar as empresas da cadeia automotiva da região.
“Entendemos que há chance de nacionalizar muita coisa, o que também é um processo de reconversão. Um exemplo é que no Brasil nós só produzimos câmbio manual. Entre as principais produtoras, está a Dura, em Rio Grande da Serra, e mesmo assim nós não produzimos o câmbio automático, que está saindo com a maioria dos carros hoje. É momento de aproveitar as vantagens competitivas que temos na região”, disse o diretor de políticas industriais do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), Wellington Messias Damasceno.
Para o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, o ideal seria a modernização da indústria. “Eu vejo que a palavra é diversificação. Agregando valor, trazendo várias indústrias de outras áreas para cá”, disse.
O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC afirmou que apoia as iniciativas do SMABC para auxiliar as empresas do Grande ABC a minimizar os impactos da pandemia. “As medidas incluem incentivos fiscais, linhas de crédito e a reconversão industrial, que precisam de deliberação dos governos estadual e federal. A entidade regional acompanha a situação junto à categoria produtiva”, assinalou em nota.
Abaixo acesse a íntegra da 13a Carta de Conjuntura da USCS, do Observatório Conjuscs.