Recorde esperado na produção de autos puxa demanda interna por aço

O novo recorde esperado para a produção da indústria automobilística brasileira vai impulsionar a demanda interna por aços, contribuindo para melhorar as perspectivas para as siderúrgicas, num horizonte em que são esperados novos aumentos de custos com minério de ferro e carvão. Diante da maior demanda por aço e da expectativa de que sua importação continue em queda, já se considera a possibilidade de aumentos de preços dos produtos siderúrgicos em 2011.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) espera elevação de 1,1% na produção do setor, que deve somar 3,680 milhões de veículos em 2011. O crescimento projetado, entretanto, é menor do que no ano passado, quando foi produzida marca histórica de 3,64 milhões de veículos, 14,3% a mais do que em 2009.

A indústria automobilística responde por cerca de 30% das vendas do setor siderúrgico no Brasil. Já o aço responde por cerca de 50% do custo total de insumos de um veículo, segundo o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini. Com relação ao preço final do automóvel, equivale, em média, a 20%.

As siderúrgicas brasileiras pararam de reajustar o preço do aço para a indústria automobilística no ano passado, conforme Belini, que também é presidente da Fiat no Brasil. A interrupção das altas ocorreu quando as montadoras passaram a aumentar as importações do insumo, devido ao chamado prêmio, ou seja, diferença de preços nos mercados externo e interno.

Dados do Instituto Aço Brasil (IABr) apontam que as importações brasileiras totais de aço cresceram 154,2% em 2010, chegando ao recorde de 5,928 milhões de toneladas. A expansão foi puxada pela alta de 172,4% no volume de aços planos desembarcados, que somou 4,067 milhões de toneladas, de acordo com o IABr.

Cada montadora mantém negociações individuais com as siderúrgicas, conforme o presidente da Anfavea. Ainda hoje, de acordo com Belini, o aço importado é cerca de 40% mais caro que o nacional e, apesar disso, as siderúrgicas brasileiras não têm concedido descontos.

Segundo o setor de distribuição, responsável por aproximadamente 25% das vendas de aço no Brasil, as siderúrgicas adotaram a política de descontos em agosto de 2010, no enfrentamento da concorrência com os importados. O resultado foi a redução gradativa dos estoques. As usinas começaram a anunciar a retirada parcial dos descontos que vêm sendo aplicados aos preços do aço vendido à distribuição, conforme o presidente da Frefer, segunda maior distribuidora independente, Christiano da Cunha Freire.

Além da concorrência com as importações, a disputa por clientes na indústria automotiva pelas siderúrgicas brasileiras tem outro desafio. É que a quantidade de aço usada na produção de um carro vem diminuindo nos últimos anos e tende a continuar assim, já que o metal vem sendo substituído por alumínio e fibra de vidro, além de outros materiais menos pesados.

Um dos principais desafios do setor é tornar os veículos mais leves para, assim, reduzir seu consumo de combustível. Alguns estudos apontam que com a redução de 15% no peso de um automóvel é possível obter economia  de 10% no consumo de combustível.

Numa tentativa de reverter esse quadro desfavorável, a indústria do aço tem apostado na nanotecnologia para desenvolver um aço mais leve, mas tão resistente quanto o tradicional. A maior siderúrgica do mundo, a ArcelorMittal, anunciou recentemente que, em cerca de três anos, será possível fornecer à indústria automotiva um aço tão leve quanto o alumínio a um preço competitivo. A ver.

Da Agência Estado