Recuperação da indústria é consequência de medidas adotadas pelo governo
Por Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp
O crescimento de 1,5% da produção industrial em agosto com relação a julho foi consequência das medidas adotadas pelo governo, a exemplo da redução da taxa básica de juros, do câmbio mais competitivo, da diminuição de impostos para bens duráveis e das ações de política industrial.
O resultado indica que a economia começa uma recuperação. Se para incentivar o investimento o governo tivesse tido o mesmo empenho que teve nos pontos acima, o desempenho industrial teria sido ainda melhor porque entre o investimento e o consumo haveria maior equilíbrio. Não é por acaso que o segmento de bens de capital teve evolução de tão somente 0,3% no mesmo período.
Vários fatores explicam um desempenho industrial tão baixo quanto o que ocorreu no primeiro semestre quando a produção caiu 3,6%. Primeiro, a indústria, que já vinha perdendo capacidade de concorrer com o produto importado continuou nessa condição, muito embora o governo venha agindo para minimizar o problema.
As políticas adotadas, no entanto, somente farão efeito a partir do ano que vem. Em segundo lugar, as exportações de manufaturados tiveram forte declínio devido ao ambiente externo desfavorável e, novamente, em função dos problemas de competitividade da produção doméstica.
Terceiro, o consumo e o investimento desaceleraram significativamente, especialmente o segundo, reduzindo a demanda por produtos industriais. Finalmente, dois ramos com grande peso na estrutura industrial tiveram perdas especialmente relevantes, sendo responsáveis por mais da metade do declínio da produção na primeira metade do ano.
São os casos de alimentos e veículos. No caso de alimentos, este teve recuo de 2,8% entre janeiro e junho, a despeito do grande aumento do salário mínimo que reforçou o poder de compra da população de renda mais baixa. Mas, recentemente, a produção mostra sinais de reação e voltou a crescer.
O setor automobilístico viveu uma crise de grandes proporções no início do ano em parte devido ao colapso do mercado de caminhões, mas também porque a restrição do crédito ao consumidor por parte dos bancos privados restringiu a nova demanda de automóveis.
Nesse caso, foi necessária a interversão do governo, através da redução do IPI, para interromper uma queda que chegou a 18% no primeiro semestre, desovar os estoques e regularizar o mercado.
A reativação recente nesses dois setores que, juntos, representam quase 20% da indústria brasileira, pode ser expressa nos índices de crescimento dos dois últimos meses, 4,5% e 7,5%, respectivamente.
A retomada da indústria depende de outros fatores, especialmente de sua condição de concorrer com a produção estrangeira, como já foi observado, mas a continuidade da recuperação desses dois setores é também importante.
Em alimentos, a evolução deve ter continuidade, mas o fim previsto para outubro do benefício fiscal na compra de automóveis explicita a necessidade de que o crédito às famílias volte a crescer. Esta é uma possibilidade que deve ser levada em conta porque os índices de inadimplência no financiamento de veículos que vinham aumentando, se estabilizaram desde maio.
Do Valor Econômico