Reflexo da crise econômica, empregos temporários disparam na França

O emprego estável com proteção social, desde a Segunda Guerra Mundial uma conquista da sociedade francesa, está começando a se tornar um sonho inalcançável para a maioria dos recém-chegados ao mercado do trabalho. Isso porque, segundo as estatísticas do Ministério do Emprego, os chamados “contratos por tempo determinado” (CDD, na sigla francesa) representaram 80% das contratações desde o começo do ano.   

Na França, existe uma diferença entre o “contrato por tempo indeterminado” (CDI), – seguro, garante estabilidade no emprego e dificulta a demissão – e o CDD, um contrato de três, seis, ou até 18 meses.   

A consequência direta dessa nova tendência, que se acelerou desde o começo da crise econômica, é que atualmente 10% dos empregados têm CDD. O aumento é de 400% nos últimos 25 anos. Longe dos números, a realidade é ainda mais preocupante, pois a estatística não leva em conta o chamado trabalho “temporário”, que emprega só por algumas horas como, por exemplo, no caso de pedreiros, enfermeiras ou faxineiras.   

Os empresários justificam o aumento dos empregados temporários pela preocupação com relação ao futuro em tempos de crise. Como explica Jean-Eudes du Mesnil, secretário-geral da CGPME (Confederação de Empresas Médias e Pequenas), “a falta de visibilidade nas encomendas incentiva as empresas a privilegiar contratos curtos”. Para muitas, apesar do custo mais elevado – elas devem pagar uma indenização no final do contrato –, a escolha pelo CDD tem menor risco porque permite uma redução rápida da força de trabalho no caso de uma deterioração brutal do ambiente econômico.   

O problema é que as empresas acabam desrespeitando a lei. Em teoria, o CDD é permitido somente em duas hipóteses: para substituir um empregado estável ausente por determinado tempo (gravidez, doença etc.) ou no caso de um aumento pontual das encomendas (por exemplo, na época de Natal).

Crise   
Esse panorama está começando a se consolidar com a continuidade da morosidade econômica. Ao contrario do que aconteceu na Alemanha, surpreendida pelo bom desempenho de sua indústria (cuja atividade aumentou 5,4% no segundo trimestre de 2010), os dados são ainda decepcionantes na França, segunda maior economia da zona euro. Em junho, a produção industrial recuou 1,7%.   

Nesse contexto, a promessa do governo de um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1,4% este ano parece otimista demais. Na Alemanha, o instituto de pesquisa econômica IWH recém anunciou que o crescimento anual deve ser de 2,5%, contra uma previsão inicial de 1,8%.   

As perspectivas na França não são animadoras, já que os últimos números sugerem uma nova desaceleração da economia, enquanto a recuperação estava apenas no meio do caminho. O recente anúncio do governo de que promoverá cortes no orçamento para tentar limitar o déficit das contas públicas pode agravar a situação.

Do Opera Mundi