Renda, motor do país



Reginaldo em seu carro novo.

A empregada doméstica Sueli viu materializar-se, neste ano,
o sonho da casa própria. O zelador Reginaldo trocou de carro
há dois anos. Anaílton, faxineiro, conseguiu
comprar o seu primeiro automóvel e terminar a sua casa
própria no ano passado. A babá Lúcia,
por sua vez, comemora o cardápio mais diversificado e a mesa
mais farta. O que há de comum na vida destas quatro pessoas,
que realizaram seus sonhos, alguns típicos da classe
média? Os quatro realizam funções que
lhes garantem no máximo quatro salários
mínimos por mês. E experimentam, na pele, um
fenômeno de desconcentração da renda no
país, com uma transferência efetiva dos recursos
para as camadas menos favorecidas da população
brasileira.

Esse movimento é conseqüência de uma
combinação de programas sociais que têm
se mostrado eficientes com uma política econômica
que tem garantido o crescimento do país. E desafia a antiga
tese de que é preciso esperar o bolo crescer para depois
dividi-lo com os mais pobres. Muitos brasileiros passaram
décadas na espera, em vão, pela sua fatia do
bolo. Outra máxima dos economistas vem caindo por terra: a
de que o aumento da renda do trabalhador anularia os
esforços do combate à
inflação.

A melhoria do poder de compra das camadas de baixa renda do
país é a feição humana das
estatísticas alcançadas em questões
que afetam diretamente o bolso de pessoas como os quatro personagens
que abrem esta reportagem, quanto em áreas que
estão muito distantes do cotidiano delas. O aumento do
salário mínimo, por exemplo, dos 200 reais que
valia no início de 2003 para os atuais 350 reais, afetou
diretamente a vida de mais de 40 milhões de brasileiros que
têm seu rendimento vinculado ao piso nacional. A
expansão de programas como o Bolsa Família
proporciona renda a camadas ainda mais pobres da
população. A desoneração
dos alimentos da cesta básica foi outro fator que resultou
em ganhos positivos na quantidade e na diversidade de calorias nas
mesas das classes menos abonadas.

No campo da política econômica, o governo
conseguiu quitar os compromissos com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e elevar o nível das reservas em
dólar do Brasil – que chegou a 64
bilhões de dólares em julho, superando a
dívida externa da União, de 63,28
bilhões. Também vem conseguindo assegurar um
nível constante de crescimento do PIB, ao mesmo passo em que
mantém a inflação em queda. Mas o que
isso tem a ver com o dia-a-dia de empregadas domésticas,
zeladores, faxineiros e babás?

Onze anos em dois

A relativa prosperidade que é experimentada pelas camadas de
renda mais baixa foi identificada por um estudo feito pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV) com base
na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de
2004. A pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) revelou que a quantidade de pessoas que
viviam abaixo da linha da miséria diminuiu dos 36,57% da
população registrados em 1993 para 25,08% em
2004. A linha da miséria