Restos mortais de possíveis desaparecidos políticos são encontrados em São Paulo

Representantes do MPF-SP (Ministério Público Federal em São Paulo), em conjunto com equipe técnica, encontraram restos mortais no interior de um ossário clandestino que ficava embaixo de um canteiro com o letreiro do cemitério Vila Formosa, na zona leste de São Paulo. Os trabalhos de busca no cemitério, iniciados no dia 8 de novembro, têm o objetivo de localizar os restos de aproximadamente dez desaparecidos políticos da época da ditadura militar.

O grupo responsável pelas buscas é formado por membros do MPF-SP, da CEMDP (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos) – ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República -, do INC (Instituto Nacional de Criminalística) do Departamento de Polícia Federal e do IML (Instituto Médico Legal) do Estado de São Paulo. Até a profundidade em que o material foi vasculhado, os peritos visualizaram restos mortais no interior de sacos.

Segundo a procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga e o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert, os trabalhos dos peritos prosseguirão até a próxima sexta-feira (3/11). Os dois procuradores são autores de uma ação que pede a responsabilização das autoridades públicas que autorizaram a ocultação dos cadáveres de opositores políticos mortos durante a ditadura. Mais de 450 pessoas foram mortas ou desapareceram durante o período do regime militar no Brasil.

Depois do trabalho de localização, serão selecionadas ossadas para pesquisa antropológica, quando fotos e dados médicos e dentários das vítimas serão cruzados com as características das ossadas. Essa primeira fase será realizada em conjunto pelo IML e o INC, que extrairá dos ossos o material genético para a segunda fase. Nesta etapa, o material extraído dos ossos será confrontado com o material colhido dos familiares das vítimas e que compõe o banco de DNA.

Caso não ocorra identificação positiva, o MPF pleiteia que no local seja erguido um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos na Ditadura Militar.

Desaparecido
Entre os restos mortais procurados, estão os de Virgílio Gomes da Silva. Conhecido como Jonas, ele liderou o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.

A família de Virgílio obteve documentos que apontam o número do terreno em que ele teria sido enterrado no cemitério da Vila Formosa, em 1969.  As informações foram repassadas aos procuradores, que realizaram uma série de diligências preparatórias no cemitério. Durante o trabalho de buscas, foi constatado que a sepultura e respectiva quadra foram renumeradas. Além disso, antigos funcionários indicaram que os restos mortais foram transferidos para esse ossário clandestino, posteriormente coberto pelo canteiro e pelo letreiro. “Estamos procurando por Virgílio na quadra 50 e trabalhos de escavação já estão sendo feitos para localizar a sepultura”, informou o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert.

Uma análise do INC, realizada com base nos dados preliminares coletados com ajuda de um radar de penetração no solo, combinado com fotografias aéreas de 1972, permitiram aos peritos localizar a estrutura embaixo do canteiro, removido para que fossem iniciados os trabalhos nesta segunda-feira (29/11). A avaliação dos peritos é de que esse compartimento tenha aproximadamente três metros de largura por três de comprimento, com profundidade indefinida.

Histórico
Até a construção do cemitério de Perus, os cadáveres dos militantes políticos eram enterrados em outros cemitérios públicos, sendo o mais conhecido o de Vila Formosa. Na época em que foram concluídas as ações de ocultação de cadáveres em Perus (exumações em massa e transferência para vala comum), em 1975, o cemitério de Vila Formosa também passou por um processo de descaracterização.

As alterações foram realizadas sem projeto formal de reforma, registro ou cautela em preservar a possibilidade de futura localização de sepulturas. Estas informações foram apuradas pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal de São Paulo, instituída por ocasião da abertura da vala do cemitério de Perus, em 1990.

Do Última Instância