Retrato|Escolhido por Ghandi

Descalço, cabeça raspada, envolto numa túnica branca
e segurando um cajado, o ator João Signorelli interpreta desde 2003 o
líder indiano Mahatma Ghandi no espetáculo Ghandi, um Líder Servidor. O
monólogo, de 40 minutos de duração, cabe em qualquer ambiente.
Universidades ou clínicas, empresas ou presídios. Claro, em salas de
teatro também. Trata de ética, não-violência, amor, liderança,
cooperativismo em espaços onde o foco é a busca de conhecimento e
resultados.

O texto
começa com Ghandi anunciando o início de um jejum para despertar
consciências do Ocidente e do Oriente: “Que os povos deixem de se
alimentar com pensamentos desequilibrados, preconceitos e sentimentos
sombrios”. Signorelli recita para si mesmo de dois em dois dias e diz
que sempre lê e aprende algo novo sobre Gandhi, para quem um verdadeiro
líder não é o que sabe dar ordens, mas exemplos; estimula o pensamento
no bem coletivo como forma de alcance da satisfação pessoal.

Com
35 anos de carreira, dezenas de filmes, peças e novelas, Signorelli foi
Dom Quixote, no início dos anos 70, em O Homem de La Mancha. Seu
escudeiro Sancho era Grande Otelo (1915-1993), que não o levaria até a
doce Dulcinéia, mas para a TV Globo. Ele vê o personagem que encena há
quatro anos em sintonia com uma tendência que considera em alta, no
universo corporativo e na sociedade, de valorização de princípios
éticos nas relações humanas. É feliz por ganhar a vida dizendo o que
pensa e divulgar a cultura da paz. E ratifica que no mundo teatral os
personagens é que escolhem os atores. “Penso em vivê-lo até meu último
respiro.” (Por Ieda de Abreu)