Retrato|O fazedor de rabecas

Sebastião Rodrigues trabalha na roça, é pedreiro, carpinteiro e nasceu com sangue musical.

Por Xandra Stefanel

Nascido para as cordas

Sebastião Rodrigues mora na comunidade de Ribeirão de Areia, em Chapada Gaúcha (MG). Faz de tudo um pouco. Trabalha na roça, é pedreiro, carpinteiro. E garante ter nascido com sangue musical correndo nas veias. Neto de violeiro, sobrinho do guia da Folia de Reis e irmão de dois multiinstrumentistas, Tião já tocava viola e violão. Até encasquetar com a rabeca. Como não tinha, fez ele mesmo a sua. A primeira de muitas. Como notícia anda ligeiro na cidade, de 5 mil habitantes, logo apareceram encomendas, e com elas a esperança de Tião de poder viver do que mais gosta. Mas, numa região tão pobre, quem iria sustentar o sonho do artista?

O talento com a madeira e com as cordas chamou a atenção do violeiro Roberto Corrêa, um dos autores do livro Tocadores – Homem, Terra, Música e Cordas (Ed. Olaria), de passagem pelo sertão mineiro, que abriu caminhos. Tião expôs e tocou em feiras de Brasília e de Alto Paraíso (na Chapada dos Veadeiros, em Goiás) – onde fez 250 reais em dez dias. No dia-a-dia as vendas minguam, sai uma rabeca a cada seis meses. Enquanto não realiza o sonho, o sertanejo faz violinhas para os filhos. “O menor, de 3 anos, já vive arranhando as cordas”, orgulha-se. E por enquanto, para alimentar esses futuros violeiros, entre uma rabeca e outra Tião vai-se mantendo firme sob o sol impiedoso da roça. (Xandra Stefanel)