Retrato|Trabalho, suor e samba

Por Vitor Nuzzi
 

Nayra Regina Cardoso é artista nata. Criancinha,
já participava de concursos de dança. Adolescente, fazia cestas e
outros artesanatos. O hobby virou ofício. Hoje, aos 22 anos, trabalha
num ateliê de decoração, na Vila Madalena, São Paulo, e dá aulas de
dança de salão duas vezes por semana em academias. “Amo dançar e fazer
artesanato. Aprendi tudo na raça.” De casa, em Osasco, para o trabalho,
são três conduções, quase sempre em pé, com bolsa e sacola. “Tenho que
levar comida, senão o salário não dá.”

No
ateliê trabalham doze mulheres. As lesões por esforço repetitivo já
chegaram ali. A dançarina tem tendinite nas mãos e bursite no ombro
direito. O problema já levou as patroas a contratar uma fisioterapeuta
para tentar evitar afastamentos. Todas fazem meia hora de relaxamento,
de manhã e à tarde. “Já não sinto tanta dor. A empresa está crescendo e
estamos cobrando melhorias, valorização pessoal e salarial. A gente não
vive sem ele, mas dinheiro não é tudo, né?”

Tudo
o que faz, a artesã faz com alegria. Há três anos, está na comissão de
frente da escola de samba Tom Maior. Este ano, o samba-enredo conta 100
anos de história dos trabalhadores. Até a CUT-São Paulo entrou nesse
samba: “Quero ter o meu direito, chega de exploração/ Com licença, eu
vou à luta/ Faço greve, vou pra rua/ Digo não à opressão”. Nayra ensaia
com energia. Quando se aproxima o Carnaval, a alegria aumenta. (Por Xandra Stefanel)