Rodada Doha não fracassou
Acordo de comércio mundial não saiu porque países pobres não aceitaram se curvar diante dos ricos.
Marino Vanni, vice-presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, acompanhou a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada mês passado em Genebra.
Para os trabalhadores,
as negociações fracassaram
mesmo ou foi
melhor os países pobres
não aceitarem um acordo
que pusesse direitos e
empregos em risco?
Não houve fracasso. Só
não se chegou a um acordo.
O comércio mundial não
regredirá. De fato, não se
chegou a um acordo porque
os países mais pobres não
se sentiram contemplados
e perderiam muito.
Que tipo de acordo
poderia ser feito que levasse
em conta os interesses
dos trabalhadores?
Na OMC não se fala
em trabalho nem em desenvolvimento,
mas sim em
comércio livre.
Cada vez mais se trabalha
pelo fim da intervenção
do Estado e de governos,
principalmente em países
em desenvolvimento, para
que os já desenvolvidos
disputem os mercados destes
países. Ao mesmo tempo
que os ricos querem os
mercados livres dos países
em desenvolvimento, os
mesmos intervêm e mantêm
o estado como regulador e
protecionista de vários setores
da indústria, agricultura
e serviços.
Um acordo justo seria
pensar, primeiro, no desenvolvimento
sustentável global
e na melhor distribuição
internacional do trabalho,
pensar nas possibilidades de
cada país, bem como tratar
os desiguais de forma justa,
exigindo mais de quem tem
mais e concedendo mais a
quem necessita mais.
Num processo de
negociação de tamanha
complexidade é possível
contemplar todos os interesses?
Numa discussão de fluxo
de comércio e não de
justiça e de desenvolvimento
social é impossível contemplar
todos os interesses, até
porque nem todos são justos
e também porque os que têm
mais querem mais dos que
têm menos, e os que têm
menos não têm força suficiente
ainda para mudar esta
concepção de que comércio
é apenas lucro, mas pode sim
ser mais justiça social e desenvolvimento
sustentável e
para todos.
Na sua opinião, os
negociadores levam mais
em conta os interesses
das sociedades que representam
ou do capital?
Do capital. Em nossa
sociedade o direito à vida
sempre está em segundo
plano. Ao mesmo tempo
em que o capital quer liberdade,
exige que o estado e
os governos lhes dêem condições
para se desenvolver
(portos, estradas, energia
etc) e não pagar impostos.
A maioria das entidades
patronais é pró comércio
livre, sem qualquer barreira
ou obstáculo. Querem competir
e, depois, impõem que
nós paguemos a conta com
flexibilização, baixos salários
e fim dos direitos.