Rodas de leitura

No Vale do Paraíba (SP), projeto faz professores, alunos e comunidades desenvolverem o hábito e o sabor do ato de ler.

Despertar
Rosilene abre a roda depois colhe os frutos: o interesse pela leitura

 
Por Joás Ferreira de Oliveira

Roda viva

Rodas de leitura ganham força em cidades do interior, estimulam e desenvolvem o potencial de aprendizado e integram professores, estudantes e comunidades

Quando a professora chegou, alunos se sentavam em roda
no meio da sala de aula. Alguns conversavam e outros folheavam livros.
A professora Rosilene Inês Chaves, da Escola Estadual Newton Câmara
Leal Barros, de Taubaté, inicia a aula. Fala a respeito da autora e da
história que lerá naquela manhã: o conto Biruta, de Lygia Fagundes
Telles. Com habilidade, desperta o interesse para os significados da
palavra “biruta”. Na história, é o nome de um cachorrinho muito
travesso. Os alunos ouvem em silêncio. Ao final, estão emocionados.
Terminada a aula, aproximam-se da professora para pedir livros
emprestados. Essa é uma das formas com que o projeto “Entre na Roda:
Leitura na Escola e na Comunidade” tem contribuído para formar leitores
em cidades como Taubaté, Caçapava, Caçapava Velha, Igaratá, Monteiro
Lobato e Jambeiro, no Vale do Paraíba (SP).

O projeto tem a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), organização
não-governamental e sem fins lucrativos, e parceria da Fundação
Volkswagen. Segundo Maria Alice Armelin, do Cenpec, o Entre na Roda é
dirigido a escolas públicas, bibliotecas, ONGs e associações
comunitárias.

A professora de
ensino fundamental Alcimara Azevedo é uma das pioneiras do projeto em
Taubaté. Organiza rodas de leitura e atua na formação de orientadores.
É “trabalho de formiguinha”, e os resultados – formação de novos
leitores e melhora na qualidade educacional e no potencial de
aprendizado das crianças – aos poucos vão sendo percebidos. “A partir
das primeiras leituras, os alunos já passam a querer uma nova história,
perguntar sobre a que ouviram ou pedir o livro emprestado”, conta a
professora. “Eles passam a interpretar o contexto das histórias com
maior profundidade e interesse, conseguindo enxergar, nas entrelinhas,
as imagens que as palavras carregam. E também melhoram sensivelmente
suas redações escolares.”

Na
escola Professor Lafayette Rodrigues Pereira, em que leciona, além de
introduzir o projeto, Alcimara organizou uma gibiteca, com a parceria
do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, como forma de aproximar os
alunos do hábito de ler. Walace, Núbia e Janaína, da 5a série do ensino
fundamental, aprovam e garantem tirar muito proveito das rodas de
leitura.

O mesmo encantamento
foi experimentado por algumas mulheres que estão em presídios da
região, nos quais o Entre na Roda também vem sendo aplicado. Antes,
elas normalmente usavam folhas de livros a que tinham acesso para fazer
cigarro. A partir das rodas de leitura, passaram a ter uma nova relação
com os livros, percebendo que propiciam uma viagem prazerosa para além
dos muros da prisão.

Encantamento
A professora e coordenadora pedagógica de Jambeiro Roberta Aparecida de
Lima Pimentel encontrou uma maneira inusitada de aplicar o projeto. Ela
faz roda de leitura no ponto de ônibus. “Gosto de pegar o ônibus
escolar junto com as crianças. Enquanto espero a condução, quase sempre
estou manuseando algum livro, e isso já desperta curiosidade”, ensina.
“Passei a levar livros infantis e vi que as crianças acompanhavam
atentamente cada folha que eu virava. Depois de alguns dias, perguntei
se queriam que eu lesse, e todas adoraram a idéia. Assim nasceram as
rodas de leitura no ponto de ônibus.”

Do
ano passado para cá o número de espectadores vem aumentando, e Roberta
teve de organizar sessões