“Rota 2030 não dá conta dos desafios da indústria nacional”
Foto: Adonis Guerra
Após o Brasil ficar desde janeiro sem um regime automotivo, Temer assinou a Medida Provisória que cria o Rota 2030 no último dia 5. A MP precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional em 120 dias. O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, responsável por políticas industriais, Wellington Messias Damasceno, acompanhou as discussões no ano passado e criticou a MP.
“O Rota 2030 ficou muito distante de ser um programa para a indústria automotiva nacional. A Medida sequer contempla a produção no Brasil, o fortalecimento da cadeia produtiva, não garante empregos, renda nem atração de investimentos, como foi o Inovar-Auto”, afirmou.
“Por ser de longo prazo, com validade de 15 anos, o Rota 2030 deveria ser um programa estruturante e robusto. Do jeito que está, não dá conta dos desafios da indústria nacional”.
Os Ministérios da Fazenda e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o MDIC, não chegavam a um consenso dentro do próprio governo, o que deixou o País sem uma política para o setor desde o fim do Inovar-Auto, em dezembro do ano passado.
“A falta de um regime automotivo desde o começo do ano mostrou a total falta de visão estratégica desse governo ilegítimo. Essa falta de ousadia pode colocar em xeque o futuro da indústria, já que essas medidas não estimulam a produção, o conteúdo local nem a qualificação profissional dos trabalhadores”, avaliou.
Wellington lembrou que o Sindicato buscou espaço no processo de discussões de elaboração do Rota para colocar o ponto de vista dos trabalhadores. “Foram realizadas diversas reuniões ao longo do ano passado e o governo ignorou as contribuições das diversas entidades que participaram do processo”, criticou.
“Sem um programa que dê conta dos desafios da indústria nacional, há o grande risco de uma nova invasão de importados e retrocessos. Quando a produção industrial é aqui, há geração de riquezas, empregos, conhecimento e inteligência no Brasil. Se a indústria só importar, não teremos nada”, alertou.
O Sindicato está trabalhando, junto aos parlamentares, emendas para que o Rota 2030 seja um programa efetivo para o setor. “Os Metalúrgicos do ABC pautaram a criação do Observatório das Indústrias para fiscalizar se os investimentos em pesquisa e desenvolvimento estão, de fato, sendo feitos. Queremos assegurar nossa participação para fortalecer e fazer com que o Observatório cumpra seu papel. Esperamos que, a partir das eleições e de um governo comprometido com a classe trabalhadora, o Rota 2030 possa ser melhorado com a participação dos trabalhadores”, disse.
Foto: Edu Guimarães
O Sindicato também defendeu a inclusão das ferramentarias para o fortalecimento da indústria. O desenvolvimento de ferramental é um dos itens estratégicos em Pesquisa e Desenvolvimento, além de nanotecnologia, inteligência artificial, entre outros.
“O Rota 2030 deveria ser do tamanho da indústria brasileira. Vamos lutar para isso”, concluiu.
O Inovar-Auto, em vigor de 2013 a 2017, foi a política de incentivo fiscal para as montadoras e empresas da cadeia automotiva para investirem em pesquisa, engenharia e desenvolvimento tecnológico, com aquisição de peças nacionais e determinava que partes da produção deveriam ser feitas nas plantas do Brasil. Também definia metas para que os carros se tornassem mais seguros, eficientes e menos poluentes. As novas plantas instaladas no País alcançaram mais de R$ 16 bilhões em investimentos e mais de 54 mil empregos diretos e indiretos foram criados.
Híbridos e Elétricos
Decreto reduz o Imposto sobre Produto Industrializado, o IPI, sobre veículos híbridos e elétricos, de 25% para uma faixa entre 7% e 20%, dependendo do peso do veículo e da eficiência energética. Porém, o Rota 2030 não contempla o desenvolvimento nem a produção desses veículos no Brasil.
Da Redação.