Saída da crise é política e não econômica

Só o rompimento com o sistema financeiro permitirá que países não atravessem crises, pagas com sacrifício dos trabalhadores, diz Sérgio Mendonça, do Dieese

 

Dino Santos

Em entrevista para a Tribuna, o economista Sérgio Mendonça (foto), do Dieese, defendeu que os países em crise (EUA, Espanha, Grécia etc.) tomem uma atitude política e rompam com os mercados financeiros. “Eles continuam reféns dos bancos com as medidas econômicas que adotam e as populações pagam a conta”, disse.

Mendonça acredita que, hoje, o Brasil tem condições de enfrentar a crise só por um ou dois anos. “Para não cair nos mesmos problemas da Europa e dos Estados Unidos, o País também precisaria romper com o modelo econômico atual e baixar juros, pagamento da dívida interna e valorização do real para fortalecer o mercado interno”, afirma.

O que acontece com as Bolsas de Valores?
O terremoto atual é a continuação da crise de 2008. Crise causada pelo colapso do modelo dos últimos 30 anos, período em que os mercados financeiros dominaram a economia mundial.

Como chegamos aos problemas de agora?
Há três anos, os Estados nacionais intervieram para salvar os bancos e estimular a economia para evitar outra recessão como a dos anos 1930, que desempregou milhões de pessoas. Neste processo, alguns países (Estados Unidos, Espanha, Grécia, Itália etc.) se endividaram além de sua capacidade de pagamento. Agora, os bancos se recusam a devolver o dinheiro emprestado e cobram fortunas para rolar as dívidas desses países, mantendo os governos reféns e provocando a catástrofe atual.

Isso atinge a população?
Sem dúvida. Todos os países agem da mesma maneira para quitar suas contas. Para conseguir o dinheiro, promovem seguidos ajustes fiscais (corte de salários, de aposentadorias, aumento de impostos etc.). Isso provoca uma brutal queda nos impostos e eles ficam sem dinheiro para investir, o que aumenta o desemprego, diminui o seguro-desemprego, prejudica os serviços públicos (hospitais, escolas etc.) e assim por diante, prejudicando toda a população. O resultado são as revoltas que assistimos na Grécia, Espanha, Portugal etc.

Existe saída?
Qualquer cenário para o futuro é chute. Só é possível afirmar que o crescimento econômico tiraria esses países da crise. O problema deles é como investir se não têm dinheiro? A única saída é política: enfrentar o capital financeiro que domina o mundo e romper com o sistema atual. Do contrário, as crises vão continuar se repetindo e as populações prosseguirão pagando a conta. Vamos ver até quando essas populações aguentam.

E o Brasil?
O governo tem em caixa R$ 960 bilhões que pode liberar aos poucos para estimular a economia, como fez em 2008. Isso nos garante por um ou dois anos. Depois, ninguém sabe, pois ninguém sabe quanto tempo vai durar a crise atual.

Existem alternativas?
A principal é romper com o atual tripé que domina a economia brasileira e consiste em real valorizado, juros altos e corte de gastos para pagar a dívida interna (o chamado superávit fiscal). Se fosse determinada uma forte queda nos juros, por exemplo, entraria menos dinheiro na especulação e o dólar seria valorizado. Isso pressionaria os exportadores a venderem para o mercado interno, criando empregos. É uma forma de criarmos uma dinâmica própria e escapar das flutuações da economia internacional.

Da Redação