Salão do Automóvel: uma história paralela à da indústria brasileira

Entre euforia e crises, evento acompanha 65 anos de transformações no setor

Na primeira metade do século XX, o Brasil ensaiou exposições de automóveis tanto em São Paulo quanto no Rio. Eram iniciativas isoladas em um país que não produzia carros nem tinha sequer, uma rede estruturada de estradas. Esse quadro só mudou no fim dos anos 1950, quando a indústria automobilística nacional finalmente começou a florescer. De uma hora para outra, carros feitos aqui — de marcas como Volkswagen, DKW-Vemag e Willys — passaram a ocupar com orgulho o espaço antes dominado pelos Chevrolet, Ford e Chrysler importados.

Eram os anos JK, período de desenvolvimentismo e entusiasmo verde-amarelo. Nesse ambiente, o publicitário Caio de Alcântara Machado (1926–2003), viu a oportunidade de criar uma mostra dedicada exclusivamente aos automóveis. Com apoio da Anfavea, inaugurou o primeiro Salão do Automóvel em 26 de novembro de 1960, no Parque do Ibirapuera. Nos anos iniciais, o salão era o grande assunto para quem curtia automóveis. Gente de todo o Brasil peregrinava à mostra paulista para ver os lançamentos da indústria nacional (uma regra proibia a exibição de modelos importados).

Em tempos pré-internet, era a chance de conhecer em primeira mão as novidades em carros, caminhões, ônibus e até karts e tratores. Os salões acompanharam o crescimento da indústria, o florescimento das marcas fora-de-série e, nos anos 80, a brutal retração do mercado. Houve uma edição em que as fabricantes simplesmente não compareceram, e a Alcântara Machado teve de dar “um jeitinho”. A popularidade voltaria com força com a reabertura das importações, a partir de 1990.

Mas chegou um momento em que os fabricantes decretaram que a fórmula clássica dos salões estava esgotada. Além disso, a pandemia de Covid-19 cancelou não só o Salão de São Paulo como também os principais europeus e norte-americanos. Parecia o ponto final da história. E eis que, após um hiato de sete anos, a mostra volta ao pavilhão do Anhembi — agora totalmente reconstruído e rebatizado como Distrito Anhembi. Hoje, é organizada pela RX, sucessora direta da Alcântara Machado, com apoio da Anfavea e da Prefeitura de São Paulo.

Do Motor1