Santo Dias era morto há 30 anos

Metalúrgico fazia piquete quando foi baleado pela polícia, em 1979. Assassino foi inocentado. Nesta sexta-feira, o ministro Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, inaugura memorial em homenagem à vítima

No dia 31 de outubro de 1979, mais de 30 mil pessoas saíram às ruas de São Paulo para acompanhar o enterro de um metalúrgico assassinado pela PM no dia anterior. Foi a primeira grande manifestação de trabalhadores paulistanos contra a ditadura militar que há 15 anos mandava no País.

O corpo era do operário Santo Dias de Oliveira, liderança que se destacava na luta contra o autoritarismo, por se opor a direção pelega do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e participar das lutas da Pastoral Operária, do Movimento contra a Carestia (alta de preços e arrocho salarial) e do Comitê Brasileiro pela Anistia.

Falta de provas
O companheiro fora baleado quando participava de um piquete na empresa Sylvânia. Sua morte e as manifestações que ela provocou transformaram Santo Dias num dos símbolos da luta dos trabalhadores contra a ditadura e pela democratização do País.

O PM Herculano Leonel, autor dos disparos, foi condenado a seis anos de prisão em 1982, recorreu e o processo foi arquivado por falta de provas.

Todos os anos, amigos pintam a rua onde Santo Dias morreu com os dizeres: “Aqui foi assassinado, pela Polícia Militar, às 14h, o operário Santo Dias”.

Como foi o crime
Em 1979, a ditadura militar perdia força, mas a perseguição aos militantes políticos e a repressão aos movimentos populares e sindical ainda era frequente.

Principalmente contra os trabalhadores, que viviam um processo de reorganização após as greves realizadas pelos metalúrgicos do ABC em 1978.

Em São Paulo, a oposição sindical à direção do Sindicato dos Metalúrgicos conquistava participação fundamental na organização da greve por 83% de reajuste.

Tiros
Santo Dias era dos mais atuantes e fez parte do grupo que foi a Silvânya no dia 30 de outubro organizar um piquete.

Viaturas da PM chegaram à empresa e Santo tentava convencer os policiais a liberar os trabalhadores que estavam sendo presos.

“Os policiais estavam puxando o Espanhol por um lado. Do outro, Santo segurava o companheiro. Começou então a violência, com tiros para cima e, depois, eu vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro saiu de outro lado. Escutei três gritos: ai, ai, ai. E o Santo caiu no chão”.

Ele foi levado ao Pronto Socorro de Santo Amaro, mas chegou morto.