Saúde – O que eu faço?

O telefone toca. Atendo e reconheço de imediato a voz do velho companheiro de tantas conversas e lutas, a essa altura já aposentado. Após um longo papo, ele me pede que converse com seu filho. O garoto de 20 anos trabalha na mesma fábrica em que o pai trabalhou a vida toda e não está bem.
– Ele anda cansado, desanimado, esquece tudo. Não se alimenta direito e não dorme quase nada, me diz o pai preocupado.
Combino uma hora para ele me procurar e, depois de mais uma conversa, desligo tentando imaginar o que estaria
acontecendo.
No dia e hora marcados o garoto chega, crescido, mais magro e sério, e com um sorriso me diz.
– O pai falou com você, não é? Ele não sossegava se eu não viesse aqui.
Peço que se sente, indicando a cadeira, e ele começa a falar:
– Não sei o que acontece comigo. Sinto-me perdido.
– Me conte, respondo, e ele desata a falar sem interrupção.
– No meu trabalho tenho de fazer uma porção de coisas, muitas delas complicadas, e num tempo totalmente insuficiente. Corro o tempo todo tentando dar conta do recado, mas sempre sobra muito serviço no fim da tarde.
– Todo dia sou cobrado.
Eu e o outro estagiário da nossa equipe. Temos três chefes.
Claro que tudo que dá errado é culpa nossa. Por mais que eu me esforce sempre estou longe de atender tanta demanda.
Faz uma pausa, respira e continua:
– Saio da fábrica e vou correndo para casa. Passo por sinais e radares que nunca lembro se estavam abertos ou fechados, volta e meia sou multado. O pai fica uma fera. Quer que eu coma em casa, mas não há tempo. Tomo um banho rápido, me apronto e já é hora de ir para a faculdade de engenharia.
Passo na lanchonete, pego um lanche no carro mesmo, e vou comendo enquanto dirijo.
– E na escola, está indo bem?, pergunto.
Ele sorri. Em seguida fica sério e desabafa:
– Me sinto voando o tempo todo. Não consigo acompanhar o curso, nem as matérias que eu gosto. Não me concentro porque não entendo as aulas. E como não entendo, acabo tendo sono e cochilo, acordo e menos ainda eu entendo. Minhas notas estão baixas. Vou bombar.
– Vou pra casa quando terminam as aulas. Aí o sono passa e só lá pelas duas é que consigo dormir. Mas daí a pouco são seis horas e tenho que correr para o trabalho.
Olha para mim e pergunta:
– O que é que eu preciso tomar? Alguma vitamina? Algum remédio para a memória? Estou com estresse? O que eu faço?

Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente