Saúde – Obesidade econômica
O cenário de demissões que tem tirado o sono de muitos trabalhadores de alguns ramos de ocupação no mundo todo, no Brasil, e no ABC em particular, tem trazido um reflexo imediato sobre a saúde dos trabalhadores. Aumentou de forma clara a referência às dificuldades para dormir, um aumento da ansiedade, do descontrole emocional, da irritação e da explosão por qualquer motivo.
Pode parecer pouco mas, por causa desse estresse dos últimos meses, muitas pessoas tem apelado para os calmantes e soníferos. Parece também haver aumentado o consumo de cigarros, bebidas alcoólicas e até mesmo a quantidade de ataques noturnos à geladeira, aumentando consumo de doces e outras guloseimas e o consequente ganho de peso.
Um relato, no entanto, chama a atenção.
A despeito de todo clima de crise com que a mídia tem tratado a questão econômica mundial, um trabalhador me confessou que não sabia em quem acreditar.
– Eu acreditava nos economistas, pois meu filho faz faculdade de economia e sempre afirmou que a ciência econômica, como ciência que é, baseia-se em comprovações científicas, portanto digna de credibilidade.
– E você acredita mesmo nisso? Perguntei.
– Claro! respondeu ele. Não só acredito como acho que é das ciências todas uma das mais importantes. Veja bem, continuou ele, de cada dez cargos do governo pelo menos a metade é de economista. O ministério mais importante é o da economia, seguido pelo Banco Central e pelo Planejamento, e isso em todos os países.
Parou um pouco como que revendo o que tinha acabado de dizer e falou:
– Agora já não sei mais em que acreditar, só sei que estou muito estressado e já nem assisto mais os comentários da televisão, senão não durmo.
Tentei confortá-lo com todos os argumentos que tive, mas fiquei pensando: até que ponto uma ciência social como a economia pode querer travestir-se de ciência natural e com que cara de pau, através disso, fazer com que as pessoas acreditem nas suas teses como verdades científicas inquestionáveis. Pensei também em como a sociedade atual atribui à economia uma importância muitas vezes maior que a sua capacidade de dar respostas consistentes às suas demandas.
Aquilo ficou martelando minha cabeça e quando percebi estava atacando a geladeira. Só falta, agora, um economista me dizer que o remédio para a crise é cortar as gordurinhas.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente