Saúde, pensamento e qualificação
A partir do crescimento
industrial dos últimos cinco
anos, a modernização dos
processos de produção se tornou
uma realidade no Brasil.
Isso se deu graças à política
econômica desenvolvimentista,
que incentiva as melhorias
e os investimentos em novas
máquinas equipamentos
e ferramentas.
Traz, também, uma nova
demanda, que é a exigência
de mão de obra para o setor
industrial, com qualificações
adequadas à atualização tecnológica
e, consequentemente,
uma maior exigência cognitiva.
Isso representa um
maior impacto sobre a saúde
mental e psíquica dos trabalhadores,
com surgimento de
novas doenças.
Esse quadro se reforça
com a introdução de novas
ferramentas administrativas
e de gestão que aumentam o
controle, a vigilância comportamental
e a repressão eletrônica
e virtual sobre os trabalhadores,
além de uma brutal
intensificação da carga individual
de trabalho.
O avanço – Uma profunda reflexão
é necessária. Que significado
tem aquilo que chamamos de
melhor qualificação dos trabalhadores?
É preciso diferenciar.
Uma é a qualificação que
nos traz uma maior capacidade
de pensar e entender
as modificações por que estão
passando as nossas vidas
no trabalho e nos prepare
efetivamente para o futuro
com novas capacidades e excelências.
Outra, ao contrário dessa
primeira, é uma qualificação
apenas pela necessidade
de atendermos novas exigências
da operação de máquinas
mais modernas, com
sistemas computadorizados
e coisas assim. Embora seja
importante, não é suficiente
se pensarmos num futuro
da nossa sociedade, num
horizonte de médio e longo
prazos.
Cognição e raciocínio lógico – Uma vez que na nossa
sociedade contemporânea
capitalista o pensamento,
que tem fim em si mesmo, é
um privilégio cada vez mais
restrito a poucos, e o processo
cognitivo, que sempre
tem um fim definido e que
com as ciências nos permite
adquirir e armazenar conhecimentos,
tem sido historicamente
sonegado aos
trabalhadores, resta a nós o
raciocínio lógico.
É o raciocínio lógico que
experimentamos nas deduções
práticas evidentes e na
subordinação às ocorrências
do nosso dia a dia, que
nos auxilia a lidar com problemas
no nosso trabalho e
nos permite, por experiência
acumulada, encontrar as soluções
necessárias ao sucesso
do evento produtivo.
Esses processos se constituem
na força mental que
se equivale à força física de
trabalho e que colocamos a
serviço do capital.
Daí a importância das
universidades públicas como
a do ABC. Universidades
dos trabalhadores e não
para os trabalhadores, que
discutiremos na próxima semana.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente