Scania: A greve que mudou o sindicalismo
Sábado, dia 12 de maio, completa 29 anos da greve de 1978 dos trabalhadores na Scania, em São Bernardo. Muito mais que uma luta salarial, a paralisação recolocou os trabalhadores na vida política do Brasil e transformou o sindicalismo.
29 anos da greve que mudou o Brasil
No dia 12 de maio de
1978 os trabalhadores na
Scania bateram o cartão, trocaram
de roupa, foram até
seus locais de trabalho mas
não ligaram as máquinas e
cruzaram os braços.
Era uma greve por melhores
salários que se espalhou
pelo ABC e depois
pelo País, abrindo caminho
para uma nova proposta sindical.
O movimento foi uma
decisão dos trabalhadores e já
refletia a nova postura que o
Sindicato havia adotado, de
não se submeter às imposições
políticas e econômicas da ditadura
militar.
Era um tempo de sufoco.
Em 1977, o general Ernesto
Geisel, presidente do
País, fecha o Congresso para
baixar medidas tentando impedir
o avanço da oposição.
Mas o movimento popular
já estava nas ruas. Desde
o início dos anos 70 a sociedade
se rearticulava contra a
repressão dos generais.
Os estudantes saem às
ruas exigindo a democratização
do País, o movimento
pela anistia cresce e os trabalhadores
participam de movimentos
contra a carestia e a
alta do custo de vida.
Em 1977, o Sindicato
desencadeia campanha pela
reposição salarial de 34,1%, já
que os militares haviam manipulado
os índices de inflação
e imposto um reajuste menor.
A campanha não trouxe
ganhos salariais, mas políticos.
Ela mostrou um grande
descontentamento da categoria
contra um governo repressivo
e também uma disposição
de luta por um País diferente,
com melhores condições
de trabalho e mais liberdades
políticas.
Sindicato denuncia farsa e muda cenário
Em fevereiro de 1978,
Lula assume pela segunda vez
a presidência do Sindicato e,
em seu discurso, pede para a
categoria ir à luta.
Na campanha salarial
daquele ano os metalúrgicos
denunciam a farsa da negociação
já que, em nome dos
sindicatos, a federação dos
metalúrgicos fingia que negociava
com os patrões até o
governo militar determinar o
índice de reajuste.
Por isso, o Sindicato rompe
com a Federação, avisa que vai negociar em separado e,
na pauta, não inclui o índice
de reajuste salarial.
Nas assembléias, Lula
avisa que os metalúrgicos não
iam legitimar um índice de
reajuste fixado arbitrariamente
pelo governo, o que de fato
acabou acontecendo.
A campanha não resultou
em avanço salarial. Mas
ela apontou para a categoria
que as mudanças só aconteceriam
com luta.
Mostrou para os trabalhadores
que estava nas mãos
deles a única maneira de
mudar as condições de trabalho
e de salário a que estavam
submetidos.
Foi aí que, no dia 12 de
maio, os trabalhadores na
Scania receberam seus holerites
com o reajuste fixado
pelos militares e tomaram a
decisão de desligar as máquinas
e cruzar os braços.
Logo em seguida pararam
os trabalhadores nas outras
montadoras e o movimento
se espalhou pela região
e pelo País. Até o final
do ano, centenas de greves
foram realizadas, passando
por cima da lei de greve, que
impedia as paralisações, e da
política econômica.
Assim, a campanha salarial
dos metalúrgicos representou
um marco no processo
de mudança no sindicalismo
brasileiro, pois além de
começar a impedir que o governo
decidisse sobre o reajuste
salarial para os trabalhadores,
iniciou uma nova prática
sindical, que passou a ser chamada
de novo sindicalismo.