Se não chover, Sabesp vai tirar água de lodo, diz presidente da ANA
O presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu, afirmou nesta terça-feira (21) que, se não chover a média nos próximos meses, a Sabesp vai tirar água do “lodo”. Em uma audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo, Andreu afirmou que a parcela da segunda cota do volume morto garantirá água até março de 2015.
Segundo ele, não é possível retirar uma terceira cota da reserva técnica. “Eu acredito que tecnicamente será inviável. Do ponto de vista ambiental, essa água terá problema. Se a crise se acentuar é bom que a população saiba que não haverá alternativa a não ser ir no lodo [captar água] “, afirmou Andreu.
De acordo com o presidente da ANA, houve uma “quebra de confiança” entre a agência e o governo do Estado, que, segundo ele, não ouviu a opinião e alternativas propostas desde o começo da crise hídrica no começo do ano.
“O que nos temos é uma quebra de confiança porque o secretário do Estado [Mauro Acre] assume um compromisso com o presidente da ANA, faz um acordo, você espera o tempo passar e no momento de você cumprir aquela obrigação ele diz que o acordo não foi assumido. Não tem sentido negociar com alguém que não cumpre seus compromissos, o que é o caso do secretário Mauro Arce”, disse.
Por conta de desentendimentos, a ANA e o governo do Estado fez com que a agência saísse do grupo de gerenciamento da crise do Cantareira, que havia sido montado para buscar alternativas para solucionar a crise hídrica. Para Andreu, as medidas paliativas deveriam ser tomadas enquanto havia água nos reservatórios. A solução para ele deveria ser o de controlar desde o começo da crise a vazão conforme a entrada de águas no sistema, o que não foi feito.
“Agora, a quantidade de água que nós temos nos reservatórios é tão pequena que qualquer problema que a gente venha a ter no futuro, a Sabesp não terá controle sobre o sistema de distribuição de água. Portanto, as medidas restritivas tem que ser feitas quando você tem condição de atuar e não quando você perde o controle absoluto”, disse.
De acordo com o presidente da ANA, não há alternativa a não ser reduzir o consumo do sistema. O governo do Estado tem como alternativa a captação de água do sistema São Lourenço, mas a obra, segundo Andreu, só entregaria água à região da Grande São Paulo dentro de dois anos, o que é muito tempo para solucionar a crise. O presidente da ANA também criticou a retirada de água do segundo volume morto do sistema, mesmo antes da autorização da agência.
“Constatamos em uma vistoria que o volume do Atibainha [represa] estava centímetros mais baixo na régua. No dia seguinte eles retiraram a régua e os técnicos não conseguiram fazer a medição”, afirmou.
O sistema Cantareira opera nesta terça com 3,3% de sua capacidade, de acordo com dados da Sabesp. Procurada nesta tarde, a Sabesp ainda não se manifestou sobre o assunto.
Da Folha de S. Paulo