Secretário de S.Bernardo quer acordo para superar efeitos da crise
Jefferson da Conceição defende entendimento regional. Ele admite soluções com engenharia política que envolva flexibilização da jornada e na arrecadação de impostos
Um acordo-ponte, que preveja uma queda da produção no primeiro semestre de 2009 e recuperação da economia no segundo, é a proposta do secretário Jefferson da Conceição, de São Bernardo. Ele admite soluções com engenharia política que envolva flexibilização da jornada e na arrecadação de impostos.
Em linhas gerais, o que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo pode fazer para amenizar os efeitos da crise financeira mundial?
Prefiro pensar em termos de Prefeitura; a Secretaria como organismo desta gestão. Temos discutido quase diariamente a crise com o prefeito Luiz Marinho. Em conversas com o prefeito, a idéia básica é que, isoladamente, nós podemos e devemos adotar políticas. Por exemplo, apoiar o cooperativismo, o empreendedorismo, políticas de requalificação profissional e se a crise se agravar, nós vamos apoiar os desempregados. Mas, vamos trabalhar para não chegar nesta etapa.
E quais políticas deverão ser adotadas?
Estamos numa fase de discussão sobre quais políticas ajudariam a evitar as demissões com um desafio: sem a perda de direitos dos trabalhadores. Me incluo naqueles que falam que a crise tem caráter um pouco mais grave no primeiro semestre, chegando a setembro, no máximo. Se esta é uma hipótese correta e, à luz dos fatos parece, precisamos de um acordo-ponte, cujo formato será definido, que nos ajude a passar este período. O que definimos são as premissas deste acordo. Ele não pode ter redução de salários e deve preservar a arrecadação. A produção tende a cair, pois temos problema localizado de queda de demanda no primeiro semestre. Se isso é verdade, podemos pensar num processo de engenharia política que envolveria uma flexibilização da jornada. O ABCD e, especialmente, São Bernardo, têm acúmulo absolutamente incontestável sobre o tema. Se vamos produzir menos no primeiro semestre, vamos trabalhar menos horas e vamos recuperar estas horas quando a produção crescer.
Há possibilidade de suspender impostos?
Se o emprego será mantido, vamos ver como vamos ajudar as empresas. A Prefeitura tem dificuldades, pois precisa de arrecadação para implementar uma série de programas. Mas, ao invés de não pagar imposto, podemos dialogar sobre um ou dois meses de adiamento de alguns impostos. É um diálogo difícil. Mas, se montarmos um pacote conjunto com impostos estaduais e federais, será que não é mais eficaz do que agir isoladamente? Veja que temos que montar aqui um conjunto de idéias que, coordenadas pelo governo federal e com apoio das prefeituras poderiam compor uma solução. Vamos discutir com o prefeito, tem uma série de ponderações e estas e outras ideias poderiam ser levadas ao seminário de São Bernardo, que será promovido por um conjunto de atores, entre eles o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Qual será a participação da secretaria no seminário?
Não só a nossa Secretaria, mas todo o governo do município tem a determinação do prefeito de contribuir com reflexões, articulações em vista do enfretamento dos problemas que São Bernardo, o ABCD e o Brasil vivem neste momento.
Quais aspectos da sua gestão o senhor destaca?
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo tem três papéis: formular propostas e projetos, articular os atores e executar programas e convênios em curso ou novos. Neste papel, estamos desenvolvendo um projeto de política industrial para São Bernardo e para o ABCD. Queremos atrair as indústrias, trazendo serviços especializados de pesquisa e desenvolvimento, marketing, logística, laboratórios de estudo de emissão de gases, entre outros. Nossa indústria também precisa de avanços importantes relacionados, sobretudo a logística, como um porto seco. O turismo é outro eixo, especialmente, em relação ao complexo Riacho Grande-Billings e a constituição da Cidade do Automóvel.
Esta política industrial de atrair serviços para o ABCD, além de manter, tem objetivo de gerar empregos?
Evidente que ao trazermos novos empreendimentos traremos novos empregos. Mas, tão importante quanto é manter a estrutura industrial. Temos preocupação com a crise internacional. Para nós, manter a indústria e os empregos é tão importante quanto atrair novos. Resumo a atuação da Secretaria em uma linha: a indústria sendo pensada a partir da área da inovação e tecnologia. Se conseguirmos avançar em pesquisa e desenvolvimento, vamos manter as indústrias e fortalecer nosso parque industrial e esta é uma das prioridades da nossa secretaria.
E quanto ao comércio e serviços?
Infelizmente, as últimas gestões, particularmente a última, pouco contribuíram para uma política de valorização da atividade comercial. Uma das nossas prioridades é discutir a revitalização do centro, acompanhado do desenvolvimento do comércio de bairro. Além disso, vamos trabalhar a valorização das feiras e de um centro de convenções. É papel da Secretaria também apoiar o empreendedor. Não há política de apoio aos excluídos. Além de repensar a atuação do Banco do Povo, precisamos apoiar as pessoas que estão nas periferias da cidade e do ABCD como um todo. Devemos desenvolver a economia de inclusão social. Vale destacar que todos os projetos da nossa gestão são matriciais, ou seja, envolvem várias secretarias trabalhando em equipe.
A Secretaria vê a economia solidária como uma potencialidade?
Vamos trabalhar este aspecto numa espécie de Y. Em uma das pontas discutimos a economia formal, calcada nas relações de trabalho clássicas, que é forte em São Bernardo. Mas, vamos fortalecer a ponta fraca, que vai da economia informal, que busca formalização, mas não se insere nestas formas clássicas, o que chamamos de economia solidária, às novas formas de organização, como as cooperativas de produção. Uma proposta que vou fazer ao prefeito é inserir a economia solidária nas compras feitas pela Prefeitura.
Fonte: ABCD Maior