Sem trabalho não há justiça

O leitor vem acompanhando nossa ação sindical voltada prioritariamente para tentar salvar os empregos. Temos sustentado que, mais que nós, trabalhadores, ninguém neste país tem mais interesse em defender nossos empregos que nós mesmos. Com este objetivo, nosso Sindicato tem incentivado e apoiado inúmeros projetos, entre os quais o surgimento de cooperativas como a Cooperativa dos Trabalhadores da Uniwídia, em Mauá.

De iniciativa de um grupo de 48 trabalhadores, ela pretende manter em operação a Cervin Indústria e Comércio Ltda, fundada em 1945 pelo empresário alemão Josef Hellbruegg, na Vila Prudente, em São Paulo. A fábrica transferiu-se para Mauá em 1975. Na década de 80, com 250 trabalhadores, líder do setor, vendia 12 toneladas de ferramentas em metal duro e faturava quase US$ 1 milhão mês.

A partir de 1993 começam as dificuldades. Problemas societários e administrativos explicam a decadência. No começo de 99, reduzida a cerca de 75 trabalhadores, a empresa já registrava longos atrasos no pagamento de salários, corte de benefícios sociais, plano de saúde e assim por diante. O leitor conhece o rumo deste tipo de história: concordata, falência, desemprego, processos intermináveis na justiça, golpes sobre os direitos trabalhistas, sucateamento dos equipamentos ou leilão de ferro velho e daí por diante.

Em meados de 99, no entanto, um acontecimento muda o curso dos fatos. Uma fornecedora de nigrogênio e hidrogênio, dois dos insumos básicos utilizados, a Aga, sem qualquer ordem judicial, tenta retirar seus recipientes na marra. A resistência dos funcionários a esta atitude da Aga foi o ponto de partida de uma discussão que acabou resultando, no dia 13 de agosto, no repasse do controle da empresa para uma Cooperativa de trabalhadores. Ali, enquanto processava um volume de apenas 300 kg de ferramentas/mês, começa uma nova etapa na história daquela empresa, agora sob controle de seus 48 trabalhadores.

Foram meses de muito trabalho e muita luta. Com o apoio do Sindicato a Cooperativa Uniwídia conseguiu sua inscrição estadual e condições para adquirir identidade jurídica. Apesar do processo de falência em curso, um a um os fornecedores foram aprendendo a confiar na Cooperativa que operava em acordo com o síndico da massa falida. A Aga, além de retomar o fornecimento, até renovou seus recipientes. A Dinser-Ferrramentas Diamantadas retomou seus negócios com a fábrica e passou a abastecer a Cooperativa com o insumo estratégico do negócio, a ferramentaria à base de diamante. A Gremillin, uma multinacional fornecedora de cobalto e tungstênio começou a negociar com a Cooperativa e fornecer a matéria prima mais cara do processo. No final de 1999, os trabalhadores estavam entregando 700 kg/mês de ferramentas a uma carteira de 3.500 clientes industriais.

A esta altura os salários já estavam normalizados, os impostos tinham voltado a ser recolhidos e a Cooperativa preparava-se para, em janeiro, voltar a recolher o INSS de seus membros – todos autônomos – além de negociar um plano de saúde coletivo. Como o leitor deve estar imaginando, estava tudo indo bem demais. No dia 7 de janeiro seus fornos foram desligados, suas portas lacradas – ironia neste Brasil de hoje – não por força do mercado todo poderoso, mas por força de uma sentença judicial no processo de falência da Cervin.

“Onde não há trabalho, não há justiça.” A frase, impressa em faixa carregada pelos trabalhadores da Uniwidia em protesto realizado na segunda-feira, 31 de janeiro, deveria ser objeto de profunda reflexão por parte dos responsáveis pela distribuição de justiça em nosso País. É fato que a lei falimentar está superada. Mas é preciso que o judiciário, o ministério público, os juízes, saibam separar os oportunistas dos trabalhadores sérios que procuram, com base em seus direitos e créditos trabalhistas, alternativas para continuar trabalhando e sobrevivendo.

O problema mais imediato, fe