Sérgio Nobre fala sobre o avanço do movimento sindical no Brasil

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC fala em entrevista ao jornal O Metalúrgico sobre a Organização no Local de Trabalho e a evolução do movimento sindical no País

O Metalúrgico – De que forma os CSEs e claro a organização no local de trabalho contribuíram para uma nova relação sindical no Brasil?
Sergio Nobre – Os CSEs (Comitês Sindical de Empresa) são um marco divisor no Brasil porque significam o modo ideal de representação do trabalhador dentro da empresa, por seu caráter permanente. Na base dos Metalúrgicos do ABC, atualmente, os CSEs estão presentes e atuantes em 90 empresas de São Bernardo do Campo e Diadema. As Comissões Sindicais de Empresa são responsáveis pelo aumento do diálogo social nos locais de trabalho, diálogo este que também elevou o número de acordos e soluções de conflitos nas empresas. Os Comitês firmaram-se, assim, como instrumento para garantir boas práticas sindicais sempre respeitando a realidade de cada empresa porque permitem que trabalhadores e empregadores resolvam diretamente suas demandas nos locais onde elas acontecem.

O Metalúrgico – Quais são os principais desafios dos trabalhadores neste cenário de crise econômica mundial?
Sergio Nobre – O principal desafio dos Sindicatos neste momento de crise é a defesa do emprego e do salário. Em todo o Brasil, desde o início da crise econômica internacional, em setembro do ano passado, mais de 700 mil postos de trabalho foram fechados, o que mostra a urgência do debate sobre responsabilidade social das empresas. Não é possível que uma indústria como a Embraer, por exemplo, demita 4,5 mil trabalhadores sem prestar contas a ninguém. Não falou com Sindicato, com prefeito do município onde está instalada, não respeitou ninguém. Em qualquer lugar do mundo, demitir é uma violência. Tirar o emprego do trabalhador é tirar tudo que ele tem na vida e não pode ser encarado com algo normal. Antes de demitir, as empresas deveriam, no mínimo, abrir as suas contas para comprar a necessidade das demissões e debater se, de fato, não há alternativas. Mas, infelizmente, as relações de trabalho ainda são muito selvagens aqui, porque as empresas impõem sua vontade por não haver equilíbrio de forças e negociação só ocorre quando existe esse equilíbrio. Essa crise serviu também para mostrar a fragilidade dos sindicatos no País e a necessidade de buscarmos mecanismos de proteção do emprego para atravessar períodos de turbulência sem que o trabalhador pague a conta.

O Metalúrgico – Considerando os 50 anos que o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté completa em 2009, qual a importância dos Comitês Sindicais de Empresa para Taubaté e Região?
Sergio Nobre – Os CSEs são a forma mais avançada e democrática de representação existente no Brasil. É através deles que nós estamos conseguindo modernizar as relações de trabalho estimulando cada vez mais o diálogo e a negociação coletiva. Vale lembrar que no Brasil, apesar de a carteira de trabalho ter sido criada nos anos 1930, a maioria dos trabalhadores brasileiros não tem acesso a ela e infelizmente ainda é comum o trabalhador ser demitido e ter que recorrer à Justiça para conseguir receber seus direitos. O pior é saber que em plano século muitos trabalhadores brasileiros ainda vivem em regime semelhante à escravidão. Por isso, o companheiro Isaac, presidente dos Metalúrgicos de Taubaté, entregou, em mãos, em nome de todos os metalúrgicos da CUT ao presidente Lula, no último dia 12 (por ocasião dos 50 anos dos Metalúrgicos do ABC) um pré-projeto que reivindica a criação de uma lei federal que amplie e valorize a negociação coletiva. Lei essencial para que os trabalhadores possam avançar em novas conquistas de benefícios e as empresas, por sua vez, possam enfrentar os desafios.

Do O Metalúrgico