Sérgio Nobre revela negociações para o acordo do IPI

Em entrevista à Tribuna, presidente do Sindicato dos metalúrgicos do ABC destaca o protagonismo da classe trabalhadora na luta por garantia de emprego

Emprego para manter a roda do crescimento

Em entrevista à Tribuna, Sérgio Nobre disse que a renovação do acordo que prorroga até junho o IPI reduzido com garantia de emprego é uma importante vitória dos metalúrgicos porque mostra o protagonismo dos trabalhadores na definição de políticas públicas de preservação do emprego.

Sem a pressão dos metalúrgicos o governo renovaria o acordo?
Poderia renovar, mas seria como queriam as montadoras,sem garantir a manutenção do nível de emprego.

E como se chegou a um consenso?
No final de 2008, depois que o IPI foi reduzido para o primeiro trimestre deste ano, o governo admitiu que uma medida desta, sem a preservação do emprego, não teria eficácia contra a crise, porque com demissão se perde poder de consumo. Na sequência, começou a ganhar corpo a proposta da Fiesp, de redução de salário como medida anticrise. Tratava-se de uma ideia recessiva e os trabalhadores perceberam isto quando a contestaram e passaram a exigir ações para a retomada da produção e das vendas como saída para a crise.

Foi aí que começou a pressão mais intensa dos metalúrgicos?
Exatamente. Paramos as fábricas naquele grande ato em frente a Mahle no dia 20 de janeiro, com um recado claro contra as intenções da Fiesp. No dia seguinte, tive uma audiência com o presidente Lula para expor nosso ponto de vista sobre a crise, de que as empresas estavam se apressando, tomando medidas recessivas e prejudiciais aos trabalhadores.
Dali surgiu a idéia do seminário ABC do Diálogo e do Desenvolvimento, que realizamos na segunda semana de março.

O seminário foi decisivo?
Foi. Juntamos em uma só mesa prefeituras, governos estadual e federal, trabalhadores e empresários para diagnosticar a crise, mostrar a gravidade da situação e construímos um consenso em defesa do emprego por meio de propostas de estímulo à economia. Assim, conseguimos criar um ambiente favorável à manutenção do IPI reduzido e, desta vez, com emprego garantido.

É importante frisar que no acordo está escrito que os empregos estão garantidos até junho.
Há quem diga que medidas assim protegem uns e outros não.

Manutenção do emprego não é uma bandeira desta ou daquela categoria, nem exclusiva do movimento sindical, mas de toda a sociedade
brasileira.

A economia vinha em expansão porque 20 milhões de pessoas subiram de classe social e entraram no mercado de consumo. Isso ocorreu porque aumentou o emprego e conquistamos aumentos reais nas campanhas salariais. Manter essa capacidade de consumo é o passaporte
para sairmos da crise. A população já entendeu que desempregado não compra. Sem consumo, o comércio não vende, a indústria não produz e demite. Essa é a espiral da recessão que trava a roda do crescimento.

Desoneração de impostos não representa perda de arrecadação e prejuízo à sociedade?
Quando se trata de medida emergencial e temporária em época de crise, não. IPI menor beneficia o consumidor que encontra um preço menor. Se não se vende, o Estado não recolhe nada, não arrecada. Sem o IPI menor estimava-se que as vendas de carros seriam 30% menores. Como o mercado reagiu, só o Estado de São Paulo arrecadou R$ 1,1 bilhão a mais de ICMS. Admitimos medidas deste tipo desde que amplamente negociadas entre todas as partes e com contrapartidas sociais.

É isso que o Sindicato quer para o setor de caminhões?
A queda na produção de caminhões é grave. É necessário mais do que reduzir o IPI para estimular o segmento. Estamos negociando alternativas para que o mercado interno tente absorver o que se perdeu em exportações – cerca de 60%. Um exemplo interessante
vem da Europa, cujo mercado de veículos desmoronou.

Com o agravamento da crise, vários países adotaram programas agressivos de renovação da frota de caminhões e carros.