Setor de caminhões aposta no último trimestre para reviver melhores números

A própria indústria faz questão de fugir do "chororô" tradicional e diz que a má fase já passou. E, com cautela, acredita que o setor caminha, mesmo a passos lentos, rumo a uma retomada

O mercado de caminhões no Brasil tenta sair da lama. De janeiro a agosto de 2009, o setor somou 68.344 unidades comercializadas, contra 86.635 unidades no mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Mesmo com este saldo negativo, de 21,1%, o setor procura recuperar o fôlego. E a expectativa continua nos números: 10.082 unidades em setembro, 18,5% a mais que as 8.511 unidades de agosto.

A própria indústria faz questão de fugir do “chororô” tradicional e diz que a má fase já passou. E, com cautela, acredita que o setor caminha, mesmo a passos lentos, rumo a uma retomada. O caso é que o segmento de caminhões reflete diretamente a economia nacional. E se vale da agricultura, da indústria e da mineração para se mover. Se, pelo menos, dois desses setores forem bem, o mercado de caminhões também vai bem. “O setor só funciona se tiver mercadoria para transportar. Acreditamos que a recuperação já começou”, opina Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos). “Ninguém investe em um veículo de carga se não há trabalho, diferente de como funciona o mercado de veículos de passeio”, observa o consultor Paulo Garbossa, da ADK Automotive.

As montadoras, no entanto, já planejam expandir a produção ou ainda retomar o número de caminhões que fabricavam antes do período mais agudo da crise. O total das vendas de 2008 somou 126 mil unidades. Para que isso aconteça, as fábricas apostam nas vendas, com o apoio dos concessionários. “O susto foi por conta do pessimismo exagerado de alguns. A intenção geral é que a produção volte ao normal”, afirma o gerente de vendas da Volvo do Brasil, Reinaldo Serafim. A Mercedes-Benz já faz projeção para o mercado entre 100 mil e 110 mil unidades em 2009. “O mercado retomou o crescimento. Já pensamos nas metas para 2010. Queremos de 110 mil a 120 mil caminhões produzidos”, acrescenta José Ricardo Alouche, diretor de vendas da Volkswagen Ônibus e Caminhões, que completa 30 anos no país este ano e foi comprada recentemente pela alemã MAN.

O único problema é que a resposta do aumento de produção não é assim tão imediata. “Acredito que a indústria voltará ao normal em três ou quatro meses. Estávamos pisando no freio e a rotina de antes da crise será possível no primeiro semestre de 2010”, avalia Alcides Cavalcanti, diretor de vendas da Iveco Caminhões.

Uma peculiaridade interessante desse setor é que cerca de 83,55% dos compradores são autônomos que possuem um ou dois veículos. Eles precisam de incentivos para a compra, segundo dados da Fenabrave. As medidas na área de financiamento pelo BNDES surgem como uma oportunidade para o proprietário. As vendas do segmento são estimuladas por iniciativas como o Programa ProCaminhoneiro e pelo aumento de 80% para 100% do valor financiável do produto na linha do Finame (Financiamento de Máquinas e Equipamentos). “São essas taxas através do BNDES que surtem efeito para as micro e pequenas empresas”, avalia César Alencar Pisseti, diretor de vendas de Randon Implementos.

Aceleradas

Os transportadores de cargas autônomos ainda são a maioria no mercado (cerca de 83,5%), sendo o principal responsável pela movimentação de cargas do Brasil, seguido pelas empresas, que ocupam 16,3%, e cooperativas, com 0,08% do mercado.

A região Sudeste é onde existe a maior concentração de caminhões antigos no Brasil. São cerca de 1.048.688, com idade média de 18,2 anos.

Dados da Anfavea apontam que a Volkswagen Ônibus e Caminhões é líder em três dos cinco subsegmentos no mercado de caminhões. A marca aparece em primeiro lugar de vendas nos semipesados, nos leves e nos médios. Nos pesados, a Mercedes-Benz aparece em primeiro lugar, enquanto no semileves a Ford é líder.

Outra questão é que a idade média da frota de caminhoneiros autônomos é de 21,3 anos, enquanto a frota de caminhões de empresas chega a 10,4 anos de uso. O índice não chega a ser tão preocupante, já que a idade média de um caminhão está entre 20 e 25 anos. O problema é que o veículo pesado mais antigo polui mais e tem maiores gastos em manutenção. Seria necessário um incremento especial do governo para que mais caminhões novos circulassem nas estradas. Ou, ainda, que a indústria e o Ggverno fizessem um programa específico, incentivando uma nova frota. “Não adianta simplesmente baixar o juros e aumentar o crédito. É necessário que se encontre instrumentos para que o proprietário queira trocar de caminhão, sem ter tanto prejuízo”, analisa Sergio Reze.

Apesar da fase complicada, a indústria sinaliza projeções tímidas para o final de 2009 e que, dentro das margens negativas do primeiro semestre, são consideradas otimistas. A estimativa de 5% de crescimento do setor de caminhões já seria uma evolução positiva. “Acredito que, se as exportações retomarem, a movimentação de carga será maior. E isso pode fortalecer, sem dúvida, essa retomada tão esperada”, completa o consultor Paulo Garbossa.

Reforço na equipe

O anúncio de contratações de algumas marcas de caminhões no Brasil já traduz o otimismo do setor para o próximo ano. Impulsionada pelo reaquecimento do mercado, a Mercedes-Benz empregou 800 novos profissionais, que irão atuar na produção de caminhões em São Bernardo do Campo (SP). Além deles, 350 outros funcionários que possuíam contrato temporário serão efetivados no próximo mês.

Seguindo o mesmo rumo, a Scania já anunciou que pretende, em breve, abrir mais um turno de trabalho, na fábrica do ABC paulista. “O momento é favorável, com esperança que os números sejam positivos para que possamos investir mais”, desconversa Christopher Podgorski, diretor geral da Scania no Brasil. Enquanto isso, a MAN Latin America já planeja desenvolver caminhões pesados com profissionais da Volkswagen Ônibus e Caminhões. A intenção da marca é produzir os modelos TGS e TGX, em 2011, na fábrica da Volkswagen Caminhões, em Resende (RJ).

Da Auto Press