Siderúrgicas nacionais lideram importação de aço
As quatro siderúrgicas responsáveis pela produção de 95% do aço brasileiro, ArcelorMittal, Usiminas, Gerdau e CSN, são também aquelas que fermentam as importações do produto neste ano. O crescimento das compras do aço pelo mercado nacional no primeiro semestre foi de 148,3%, passando de 1,1 milhão para 2,73 milhões de toneladas na comparação com o mesmo período do ano passado. Em valores o crescimento foi de US$ 1,48 bilhões para US$ 2,4 bilhões, um aumento de 61,5%.
As quatro siderúrgicas respondem por 49% das importações de aço e, apesar de comprar em grande volume, são as mesmas que, vez e outra, reclamam da concorrência dos produtos importados e usam os argumentos de que a concorrência externa prejudica a produção nacional, provoca e é lesiva ao crescimento da indústria nacional. A Usiminas, por exemplo, admitiu que entrará com processo no governo para tentar barrar a importação de chapas grossas.
A própria Usiminas, contudo, fechou um contrato com a japonesa Nippon Steel para importar 100 mil toneladas durante este ano. A importação é para aço galvanizado, voltado para o mercado automotivo. De acordo com a empresa, a compra foi feita até a nova unidade de produção em Ipatinga, com capacidade de 550 mil toneladas por ano, ser concluída, o que está previsto para o próximo ano. A Nippon Steel é a principal controladora da Usiminas e, segundo a empresa mineira, o aço é comprado ao preço do mercado.
Após as siderúrgicas, quem mais importa são as montadoras de automóveis, responsáveis por 15%, seguidas pelo setor de máquinas e equipamentos, que compram percentual semelhante de aço importado. Na sequência, estão as tradings, que distribuem 10% do aço importado no país. O Instituto Aço Brasil (IABr), representante das siderúrgicas, já chegou a atribuir o excesso de importações a razões especulativas.
O presidente executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, explica que a importação é uma condição natural, e que deve ser enfrentada por todos os setores. “Todo país precisa trabalhar em duas frentes. Atacar e defender o mercado”, afirma. Lopes, porém explica que, no setor do aço, a importação historicamente ficou em torno de 6%, mas atualmente atinge 20% do total – e a expectativa é que feche o ano com um volume de 4,2 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 78% em relação ao ano passado.
Excedente da crise
Lopes explica que existe um excedente de 600 milhões de toneladas de aço no mundo e que esse produto está com preço deprimido. O excesso é fruto da crise econômica mundial, que teve início em 2008. No Brasil, o impacto foi imenso, sendo que seis dos 14 altos fornos foram fechados. “Reabrir um alto forno é um processo lento e é necessário, pelo menos, dois meses e meio”, afirma Lopes.
Para reagir à crise, o governo implementou medidas para estimular o consumo, como a isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para o mercado de automóveis e eletrodomésticos, além de programas de estímulo a habitação. Os setores de construção, automotivo e equipamentos juntos representam 80% do aço consumido no país. Os estímulos, aliados ao bom momento da economia no período pós-crise, devem levar, na projeção do IABr, a um recorde no consumo de aço este ano, chegando a 25 milhões de toneladas, superior até 2008, quando o número ficou em 24,1 milhões.
Pontuais Lopes avalia que as importações feitas pelas siderúrgicas são “pontuais” e realizadas “para não deixar o consumidor na mão”. O presidente executivo do IABr entende que as siderúrgicas não podem “romper um contrato para atender um mercado que foi alavancado repentinamente”. Enquanto a importação aumentou, a exportação também cresceu. No ano passado, foram exportados 8,6 milhões de toneladas e, a previsão para este ano, é de 11 milhões de toneladas.
Entre os fatores apontados por Lopes para o aumento de importações estão a questão cambial, que eleva o valor da moeda nacional em 20%. Outros dois componentes que estimulam a importação, na visão do dirigente do IABr, são questões tributárias, como o imposto de importação para as chapas grossas que chegam via naval.
Com CNM/CUT