Sindicalismo tem novas caras no ABCD

Jovens participam do movimento sindical da Região e ocupam representações

 

Amanda Perobelli

Max, do Coletivo de Jovens Metalúrgicos: desafios superados

A juventude se fez representada no sindicalismo da Região ao longo da história e foi um dos principais atores das manifestações realizadas no final da década de 1970, que mudaram os rumos do ABCD e do País. No entanto, a evolução social obrigou o movimento sindical a se adaptar às novas realidades, tanto para incentivar a participação dos jovens e renovar as lutas, quanto para adequar as demandas da juventude aos quadros de representação nos sindicatos.

Um exemplo disso é o grupo recém-empossado para representar os trabalhadores de uma das maiores plantas industriais químicas localizadas no ABCD, a Basf Demarchi, em São Bernardo. De acordo com o coordenador do núcleo da comissão de fábrica da empresa, Márcio Vital, cerca de 70% dos trabalhadores do setor químico são considerados jovens e as lideranças tiveram que se qualificar para conseguir falar a mesma língua desse pessoal. “Atualmente, a nossa comissão de fábrica conta com pessoas com pouco mais de 30 anos. Tendo um grupo mais jovem é possível unificar as reivindicações”, disse.

Para o presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Paulo Lage, nos últimos anos houve um aumento da participação dos jovens atuando no sindicalismo. “É muito importante contar com a presença deles, afinal são eles que continuarão defendendo nossas bandeiras de luta nos próximos anos”, destaca.

No entanto, de acordo com especialistas, as últimas três décadas impuseram sérios desafios à representação da juventude nos espaços de organização no local de trabalho e dentro do próprio movimento sindical. Entre eles estão questões práticas, como a mecanização dos modos de produção, que reduziu o volume de trabalhadores dentro das fábricas, mas também problemas estruturais, como as mudanças do mercado de trabalho e a evolução cultural.

“Antigamente, o objetivo do trabalhador era arrumar emprego estável, fazer carreira na empresa e garantir o futuro da família. Nas últimas décadas, as metas passaram a ter prazos mais curtos. O trabalhador quer bons salários, sem precisar crescer dentro da empresa, e o mercado de trabalho permite que se mude de emprego. Isso muda tudo”, afirma o sociólogo Agnaldo dos Santos.

Para Santos, ao mesmo tempo em que há gratidão pelas lutas e conquistas sindicais do passado, o que faz jovens formados em Direito, por exemplo, ocuparem vagas nas montadoras por conta dos bons salários, não há uma identidade definida. “O sindicalismo se constrói na organização dos oprimidos em busca de uma vida melhor. Com a mudança da estrutura social, as relações entre as pessoas foram muito afetadas”, explica. “Não é que no passado as pessoas eram mais empolgadas com a vida sindical, a estrutura social favorecia o envolvimento delas”.

De acordo com o coordenador do Coletivo de Jovens Metalúrgicos e Metalúrgicas, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Ângelo Máximo Pinho, o Max, desde 1997, quando o coletivo passou a atuar na Região, grandes transformações ocorreram na sociedade. “Da época em que o Lula era presidente do sindicato para os tempos de hoje, muitos desafios foram superados, mas novos problemas foram colocados pelo neoliberalismo”, sintetiza.

Desafio – Nas profissões consideradas transitórias o envolvimento da juventude com o mundo sindical é mais desafiador. De acordo com o diretor regional do Sintetel (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do ABCD e Alto Tietê), Mauro Britto, a alta rotatividade é um dos problemas da categoria. “Ainda assim é possível encontrar jovens que possuem objetivos de lutar pelos seus direitos. Nossa meta é contar  com estes trabalhadores no sindicato”, conta.

Já a presidente do Sindicato dos Bancários do ABC, Maria Rita Serrano, destaca que a categoria também sofre com os problemas da alta rotatividade dos jovens e, com isso, ter trabalhadores novos dentro do sindicato acaba sendo um desafio. “Apesar das dificuldades estamos sempre buscando trazê-los para dentro do sindicato, seja em cargos operacionais como também na direção”, pondera.

Do ABCD Maior