Sindicalista é morto por pistoleiros em Marabá, diz Pastoral da Terra

Crime aconteceu às 10h desta quinta-feira (25). Este é o quarto trabalhador rural morto na região em 2011, afirma entidade

O sindicalista Valdemar Oliveira Barbosa, conhecido como Piauí, foi morto a tiros às 10h desta quinta-feira (25), em Marabá (PA). Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ele estava andando de bicicleta quando foi cercado por dois homens encapuzados e que estavam em uma motocicleta preta. O crime aconteceu no Bairro São Félix. O crime aconteceu três meses após a morte do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, ocorrida em maio deste ano.

Barbosa era casado e integrante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá. Ele foi responsável por coordenar por vários anos um grupo de famílias que ocupou a fazenda Estrela da Manhã, na cidade. Como a fazenda não foi desapropriada, ele voltou a morar em uma ocupação urbana que ajudou a organizar em Marabá.

Segundo João Batista Afonso, advogado da CPT, Barbosa coordenou um grupo de famílias que ocupou a fazenda Califórnia, em Jacundá (PA), há um ano. No fim de 2010, o grupo foi retirado do local em uma ação da Polícia Militar. De acordo com a pastoral, o sindicalista pretendia retomar a ocupação da fazenda.

Em nota, a CPT informou que o assassinato de Barbosa pode ter ligação com a tentativa de reocupação da fazenda. A Polícia Civil de Marabá está investigando o caso. A vítima não tinha passagem policial e não estava envolvido em qualquer procedimento policial. “Ele não tinha relatado ameaça de morte, mas a situação aqui é de fogo cruzado. Não há paz”, disse Batista.

A morte do sindicalista ocorreu, também, um dia após a Força Nacional anunciar que reforçou a segurança no assentamento Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna.

Segundo a pastoral, apenas o assassinato do casal de extrativistas José Cláudio da Silva e Maria do Espírito Santo, ocorrido em uma emboscada em Nova Ipixuna (PA) foi parcialmente investigado. De acordo com Batista, ninguém foi preso por envolvimento nos crimes. “O comportamento da Polícia Civil do Pará tem sido de investigar as vítimas e não os responsáveis pelas mortes, quando se trata de crimes no campo”, disse o advogado.

Desocupação recente
Ainda segundo a pastoral, 150 famílias organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST/PA) foram despejadasda Fazenda Nova Era, em Eldorado dos Carajás (PA), na noite desta quarta-feira (24), pela Polícia Militar. O grupo estava na área desde terça-feira (23).

Segundo o documento, a polícia teria chegado ao local acompanhada de grande número de fazendeiros e, sem estabelecer diálogo com as famílias acampadas, deu ordens para que todas as famílias se retirassem em 30 minutos da propriedade. De acordo o MST, se houvesse ordem judicial, a constituição estabelece que, o cumprimento teria que ser cumprido durante o dia.

Emboscada
O casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foi morto em uma “tocaia” em uma estrada na Zona Rural de Nova Ipixuna, em 24 de maio deste ano. A polícia indiciou três pessoas por envolvimento no crime, mas não prendeu ninguém após três meses do crime.

Outros atentados
Familiares do casal de extrativistas José Cláudio e Maria, mortos em emboscada em 24 de maio deste ano, relataram ter sofrido um novo atentado a tiros, na madrugada desta quinta-feira (18), em Nova Ipixuna. O ataque, desta vez, deixou ferido um dos cachorros da família, que vivia em uma fazenda vizinha da de onde morava o casal morto.

Em outro caso de violência na região, duas famílias de agricultores que estavam sobre proteção policial desde que escaparam de um tocaia em 18 de junho, em Nova Ipixuna, voltaram para seus estados de origem. Após o ataque, eles ficaram sob proteção da Força Nacional. Em julho, a Defensoria Pública do Pará informou que os trabalhadores rurais, que focam colocados em um programa de proteção à pessoa, optaram por sair do Pará porque achavam que estariam mais seguros em suas cidades natais.

Inércia investigativa e judicial
Um levantamento feito pela CPT sobre a violência no campo no Brasil apontou que cerca de 8% dos casos de assassinatos ocorridos desde 1985 devido a conflitos agrários foram julgados pelo menos em primeira instância até abril deste ano.

Os 1.186 casos monitorados pela organização, com 1.580 vítimas, resultaram em 94 condenações pelo menos de primeira instância até abril, sendo 21 de réus acusados de serem os mandantes e 73 de serem os executores dos homicídios.

Os foram contabilizados com base em informações de fontes diversas obtidas pela CPT, como relatos e notas da imprensa. Muitas das mortes sequer resultaram em inquéritos.

Do G1