Sindicato debate desafios da produção do veículo elétrico no Brasil

Para debater os desafios do veículo elétrico no Brasil, o Sindicato organizou uma live na terça-feira, dia 14, sobre os principais temas da eletromobilidade.

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Entre eles a importância da reconversão das empresas, a infraestrutura necessária, o desenvolvimento tecnológico e a oportunidade de adensamento da cadeia produtiva, com fortalecimento da produção no país, geração de empregos e capacitação profissional.

O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, ressaltou a importância de um modelo de transição, que pense na geração de empregos e renda, proteção dos empregos atuais e em tecnologias tropicalizadas, a exemplo do etanol brasileiro em complemento aos diversos modais. Também fez o alerta sobre a necessidade urgente de o país se inserir no tema para não correr o risco de ficar de fora da disputa global de produção de veículos.

“É extremamente importante discutir os desafios postos para o veículo elétrico ou correremos o risco de o cavalo passar e não montarmos, de o Brasil apenas ser importador de veículos. Desde as discussões do Rota 2030, em 2017, o Sindicato tem cobrado muito a discussão da eletromobilidade no Brasil para pensar a transição. As montadoras não vão parar as linhas de veículos a combustão em um dia e passar a produzir híbridos e elétricos no dia seguinte. A transição é para que uma mesma empresa possa produzir esses modelos lado a lado”, explicou.

“Na pandemia da Covid-19, temos falado muito em reconversão de empresas para produção de insumos e equipamentos médico-hospitalares. No caso dos veículos elétricos, a reconversão pode ser uma oportunidade de produzir no Brasil os componentes para estes novos modelos, não só para o veículo em si, mas para toda a rede de infraestrutura, com carregadores, softwares, cabos”, defendeu.

Wellington destacou que a energia é um dos setores estratégicos do país e citou a capacitação profissional para acompanhar a evolução tecnológica. “Os trabalhadores precisam estar inseridos nas novas formas de produção e também teremos a demanda por manutenção e manuseio dos veículos elétricos no dia a dia, como por exemplo em um acidente de trânsito”, reforçou.

Indústria do futuro

“A tomada de decisão das montadoras para investir é ligada às políticas públicas e ao volume para ter o enraizamento da produção de novos componentes aqui. O Brasil está entre os dez maiores produtores de veículos no mundo e tem condições de se consolidar como plataforma exportadora, tanto de veículos a combustão como híbridos e elétricos”, ressaltou.

“Mas isso depende muito de uma ação governamental agressiva de estímulo à produção, ao desenvolvimento da cadeia de fornecimento e contrapartidas bem definidas para a sociedade. As estratégias precisam estar bem articuladas entre as cidades, governos estaduais e federal. É preciso olhar para a indústria do futuro, com incorporação das novas tecnologias, para reindustrializar o país”, afirmou.

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Veículos leves

O vice-presidente de Veículos Leves da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) e gerente de Assuntos Governamentais na Toyota, Thiago Sugahara, destacou que mesmo com a pandemia, houve aumento de emplacamentos de veículos eletrificados no primeiro semestre de 2020, com 7.500 unidades, em relação ao mesmo período de 2019, com 2.300 unidades.

“Hoje representa menos de 1% dos veículos comercializados atualmente, mas ano passado estava em 0,4%. Os números são pequenos, mas estão crescendo e a infraestrutura precisa acompanhar, é uma oportunidade de negócios maravilhosa. São cerca de 100 eletropostos na cidade de São Paulo e cerca de 300 no Brasil, ainda é pouco, mas já há uma mudança quando comparado anualmente. Para o Brasil, a introdução de novas tecnologias pode ser o caminho para ajudar a recuperar a indústria automotiva”, disse.

“O país precisa de indústria forte e a indústria automotiva não existe sem uma cadeia de autopeças forte. O Brasil precisa olhar para essa cadeia e entender como vai se adaptar e ser incorporada a essas novas tecnologias”, prosseguiu.

Também defendeu a necessidade de um sistema tributário que favoreça o processo de eletrificação no país. “Hoje um veículo que faz 10, 12 km/l tem 7% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Um veículo que faz 18, 20 km/l paga 11 a 15%. É mais uma barreira na popularização da tecnologia”, avaliou.

Brasil não pode ser espectador

A professora do programa de Pós Graduação em Política Científica e Tecnológica da Unicamp e coordenadora do Leve (Laboratório de Estudos do Veículo Elétrico), Flávia Consoni, contextualizou o desenvolvimento das ações para promover a eletromobilidade no mundo e no país.

“O papel das políticas públicas tem sido muito determinante nos países que são protagonistas no tema da eletromobilidade. O Brasil não tem política nacional de eletromobilidade, mas esforços já foram conduzidos. Na América do Sul há iniciativas focadas no transporte público na cidade de São Paulo, Santiago no Chile e Bogotá e Medellín na Colômbia”, destacou.

“A eletromobilidade é uma realidade no mundo e tende a se consolidar cada vez mais. No Brasil temos respostas locais com híbrido a etanol e a hidrogênio. O Brasil precisa se posicionar na discussão, não ser só espectador, mas ter a postura de buscar seu espaço”, defendeu.

A moderação do debate foi feita pelo economista da subseção Dieese dos Metalúrgicos do ABC, Warley Soares.