Sindicato defende reindustrialização do Brasil em debate sobre mundo do trabalho
O mundo do trabalho diante do coronavírus, a crise no país antes da pandemia, as propostas de fortalecimento da indústria, a reconversão industrial e os desafios no pós-pandemia foram alguns temas abordados na live organizada ontem pelo Sindicato e Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano).
O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, ressaltou que a crise no Brasil já vinha de antes da pandemia. “As reformas, como a Trabalhista e da Previdência, já tinham agravado o empobrecimento das famílias, com mercado consumidor interno fraco e, antes da pandemia, o Sindicato já vinha defendendo o fortalecimento da indústria, com empregos e direitos aos trabalhadores, e propondo medidas de reconversão industrial como saída para a desindustrialização do país”, explicou.
“Agora o mundo está reorganizando suas cadeias de produção, internalizando parte das produções, sobretudo, as estratégicas. A preocupação é o Brasil ficar de fora disso. O país precisa fazer esse movimento em defesa da reindustrialização, fortalecer a indústria em áreas estratégicas, fazer investimentos em inovação. Um país do tamanho do Brasil não sobrevive sem indústria forte e não haverá a retomada dos setores de comércio e serviços”, alertou.
“Além disso, há a necessidade de articulação entre poder público, sindicatos, associações empresariais e universidades para fazer um grande acordo nacional que valorize a indústria, a defesa de direitos e renda e aponte novos caminhos”, defendeu.
A mediação do debate foi feita pela cientista do trabalho Vânia Viana e pesquisadora convidada do Conjuscs.
O professor da USCS e coordenador do Conjuscs, Jefferson José da Conceição, reforçou que a crise é agravada no caso brasileiro, já que antes, em janeiro, já havia 12 milhões de desempregados, 16 milhões sem carteira assinada e 24,4 milhões trabalhando por conta própria.
“É uma vulnerabilidade gigantesca de mais de 50 milhões de brasileiros no mercado de trabalho sem proteção. Essa é a crise mais grave que a nossa geração já passou e vai passar. No mundo inteiro ela pega a classe trabalhadora precarizada, sendo ainda mais grave no caso brasileiro, com a sociedade empobrecida nos últimos anos e um governo que não coordena o processo, ao contrário, cria mensagens confusas”, disse.
A técnica do Dieese na Contraf-CUT, Bárbara Vallejos, falou sobre o setor financeiro que, mesmo com as tentativas de destruição pelo argumento liberal, os bancos públicos, Caixa, Banco do Brasil e BNDES, se mostram fundamentais.
“O processo de distribuição do benefício emergencial atingiu 50 milhões de brasileiros pela Caixa e escancarou a necessidade urgente de bancarização da população, sendo que 40% não têm conta em banco e 30% sequer têm acesso à internet. Essa transferência de renda pelos bancos públicos será muito importante para salvar os dias atuais ao garantir um pouco de respiro para a economia reprimida e com a demanda bastante paralisada”, explicou.
O diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Jr., destacou a atuação das centrais sindicais e sindicatos ao propor medidas para combater a crise.
“No dia 16 de março, há quase dois meses, o movimento sindical entregou para a presidência da Câmara e do Senado um conjunto de propostas para o enfrentamento da crise. Boa parte do que foi implementado no país se deu a partir dessas propostas, o próprio auxílio emergencial, inclusive a possibilidade de chegar a R$ 1.200 por família, foi proposto pelas centrais, preocupadas com o conjunto de trabalhadores na informalidade”, relembrou.