Sindicato dos Metalúrgicos do ABC quer atuação nacional
Aos 50 anos, representação dos metalúrgicos também tem como uma das principais bandeiras o fim do imposto sindical
Nesta terça-feira (12), o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC completa 50 anos de existência com um desafio que toma para as próximas décadas, o de transpor os limites geográficos em que atua. Na área de relações internacionais, o Sindicato prepara um grupo de filiados para participar de negociações com multinacionais e organismos como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). No País, pretende pressionar o governo para mudar a legislação atual e, com isso, poder representar metalúrgicos em negociações com empresas que ultrapassem a região do ABC Paulista.
“O desafio para o futuro é ganhar liberdade para crescer e essa não será uma bandeira exclusiva do nosso sindicato por muito tempo. O futuro do sindicalismo passa por essa ação mais globalizada e os sindicatos que não se prepararem, ficarão para trás”, afirma o presidente do sindicato, Sérgio Nobre. O sindicalista adota como bandeira o ataque ao que considera dois cânceres do movimento sindical, que são o imposto sindical e a limitação geográfica da atuação dos sindicatos. Previstos em lei, esses dois recursos garantem a sobrevida dos sindicatos, mas, ao mesmo tempo, criam um monopólio da representação, diz Nobre. “Esse é um modelo importado da Itália de Mussolini por Vargas e que hoje já não é eficaz”, critica.
Há 17 anos, o sindicato não faz uso da contribuição patronal (equivalente a um dia de trabalho dos empregados). Em 2007, a Justiça cassou a liminar que o sindicato obteve em 1996, questionando a existência da taxa. Agora, diz Nobre, o valor é repassado pela Caixa ao sindicato seguindo a legislação, mas o valor é descontado das mensalidades.
Outra bandeira defendida por Nobre é a negociação em nível nacional no caso de empresas que mantêm várias unidades no país. “Muitas vezes as multinacionais negociam um reajuste para São Bernardo e outro muito menor para outras regiões. É o mesmo trabalhador fazendo a mesma atividade. A extinção do limite geográfico permitiria que um sindicato negociasse um acordo para todos os empregados de uma empresa, por exemplo”, afirma. Segundo o sindicalista, já existem projetos no Congresso para alterar a lei e o sindicato tem dialogado com deputados para que o projeto avance. Na área internacional, a entidade também prepara um grupo de metalúrgicos, com cursos de línguas e de formação técnica, para atuar nas mesas de negociações internacionais, como a OIT e a OMC. “Já existem trabalhadores que participam das negociações globais de trabalho das multinacionais, como na Mercedes-Benz, na Ford e na Dana. Estamos preparando esses metalúrgicos que já têm experiência em negociação internacional para representar o sindicato em outros foros”, diz Nobre.
Ao longo de sua trajetória, a entidade esteve à frente de ações que transformaram as relações entre trabalhadores e empresas. É o caso da ação sindical dentro das indústrias por meio dos comitês de fábrica e dos comitês sindicais de empresa, da negociação pela redução da jornada de trabalho, da criação de greves-pipoca ou greve dos golas vermelhas, da criação da Câmara Setorial Automotiva em 1992 envolvendo governo e setor privado em ações para a retomada da produção de veículos e da negociação salarial por empresa e não mais por categoria no fim da década de 90.
Na área política, a participação ativa iniciada no período da ditadura contribuiu para a criação do Partido dos Trabalhadores (PT), em1980 e da Central Única dos Trabalhadores, em 1983. Na cena política, a figura de maior expressão é o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que presidiu o sindicato entre 1975 e 1981.
De acordo com Nobre, o sindicato mantém um forte papel político ao longo de sua história. Após o fim da ditadura, o sindicato participa das mobilizações nacionais contra os projetos de desregulamentação do mercado de trabalho, as privatizações e os efeitos da abertura comercial, no início da década de 90. “Com a abertura do mercado às importações e a modernização do parque industrial, o mercado de trabalho para os metalúrgicos encolheu muito, caindo de 3 milhões de metalúrgicos para 1,3 milhão no país”, afirma Nobre. Ele destaca também o papel do atual prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, que entre 1996 e 1999 fecha acordos com Volkswagen e Ford para impedir a demissão de um total de 12,8 mil metalúrgicos.
“Houve um processo de evolução natural. O sindicato conquistou espaço para negociar com os empresários porque se manteve mobilizado e representativo. O que antes só se obtinha a custo de greves, na atualidade se resolve numa mesa de negociação. As relações de certa forma se profissionalizaram”, avalia Luiz Marinho. A profissionalização do sindicato, segundo Nobre, que garantirá à entidade maior capacidade de negociação em âmbito nacional e internacional.
Na esfera regional, o sindicato mantém as lutas para manutenção do nível do emprego, reajustes salariais com ganhos reais e aumento da participação sindical dentro das empresas. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 1989, as empresas de São Bernardo do Campo, Diadema, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires empregavam 159,2 mil metalúrgicos, número que foi reduzido para 119,3 mil em 1990 e manteve trajetória descendente ao longo dos anos, chegando em 2008 a 100 mil postos de trabalho.
Do Valor