Sindicato e UFABC debatem desafios da inovação

Ciclo de debates chega a quinta edição para envolver trabalhadores e a sociedade nas discussões do futuro da indústria

Fotos: Adonis Guerra

A quinta edição do Ciclo de Debates ‘O ABC da Indústria 4.0’, promovido pelo Coletivo de Políticas Industriais do Sindicato, foi realizada ontem, no campus São Bernardo da UFABC (Universidade Federal do ABC). A discussão tratou do tema “Desenvolvimento e Inovação: Desafios e Oportunidades para o ABC”, com a participação de professores da UFABC e da USP.

O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, reforçou a importância de aproximar os trabalhadores e as universidades.

“O ciclo de debates tem papel formativo importante para que os trabalhadores se apoderem das discussões sobre a Indústria 4.0 e inovação. Isso para o Sindicato continuar sendo agente propositivo de políticas públicas e que a região continue um polo industrial importante no país”, explicou. 

O dirigente falou sobre os desafios de inovação que estão colocados em produtos, negócios, serviços e processo.

“Por exemplo, em negócios já tem montadoras que estão deixando de ser fabricantes para oferecer serviços de mobilidade, soluções de entrega e compartilhamento de veículos nessa migração da mudança do perfil de como vai ser o consumo no futuro”, afirmou.

Também tratou da diversificação e da reconversão de produção, já que a região é muito forte no setor automotivo e polo petroquímico. “Existem oportunidades de discussão com os setores aeroespacial, petróleo e gás, eletrificação e serviços. A indústria é necessária, até para alimentar os outros setores da economia. Por isso, é fundamental defender a indústria nacional, sobretudo, no ABC.

“Temos que compreender as mudanças em curso para avançar e fazer uma transição justa que possa incluir os trabalhadores. Não é lutar contra a tecnologia, mas pensar a tecnologia a serviço de quem e para quem. É ter condições de negociar novos trabalhos, setores e a capacitação dos trabalhadores para reorganizar os postos de trabalho. É a gente se preparar, debater mais e criar políticas pensando no crescimento do país e na inclusão das pessoas. Só assim o debate faz sentido”, defendeu.

O deputado estadual Teonilio Barba (PT-SP) falou sobre a importância de ter governos comprometidos com o desenvolvimento da indústria nacional e falou sobre a emenda construída em conjunto com o Sindicato e apresentada ao IncentivAuto. “A proposta buscava a indução do desenvolvimento e do fortalecimento da indústria no ABC, no Estado e no país”, disse. O governador vetou os pontos que tratavam de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, ferramentaria e propulsão híbrida e elétrica.

A moderação foi feita pelo professor e diretor adjunto do Needs da UFABC, Giorgio Romano Schutte, que alertou para os riscos do acordo Mercosul e União Europeia sem cota nem restrição, para a indústria brasileira. “Eles vão poder simplesmente importar sem nenhuma restrição aqui. É preciso ficar de olho”, destacou.

“O que está em curso é a reestruturação na forma de se produzir no mundo inteiro. A desindustrialização é prematura no Brasil porque se dá em ritmo mais veloz do que em países em que a industrialização levou mais tempo para se consolidar. Muita gente ficará ferida no meio do caminho.

Se pensarmos na vanguarda do que significa veículo, vamos ter que olhar para Google, Apple, Uber, HP, Intel, para empresas que em princípio não tem nada a ver com indústria. Cada vez mais os veículos estão absorvendo o avanço da tecnologia. É um ponto chave para pensar o que fazer na região.

O ABC tem que insistir na articulação e na experimentação. O ABC é um laboratório aberto, é preciso articular universidades e instituições para testar novos modelos de políticas, design e manufatura”, Glauco Arbix, professor titular da USP e coordenador do Observatório da Inovação do IEA/USP.

“Uma saída à desindustrialização é o fortalecimento tecnológico e econômico da região. Uma alternativa é a reconversão produtiva, pensar novas competências para os setores econômicos já instalados, de dialogar com o novo campo que se abre com a Indústria 4.0.

É necessário pensar em capacitar cadeias produtivas locais, especialmente empresas de pequeno e médio portes, que são extremamente frágeis. E pensar em atração de novas cadeias produtivas, como a saúde, manufatura avançada, bio e nanotecnologia. 

Não é possível a região pensar de forma desarticulada. É preciso intensificar a interação entre empresa, universidade, poder público e sindicatos para diminuir a debilidade da relação entre os atores”, Anapatrícia Morales Vilha, professora e coordenadora de Transferência de Tecnologia da Agência de Inovação da UFABC