Sindicato exibe sexta o filme “A Máquina Infernal”
Metáfora sobre o processo de desindustrialização e precarização, curta metragem de terror foi gravado na empresa Legas, em Diadema, e lançado no Festival de Locarno, na Suíça
O Sindicato convida todos e todas para a sessão pipoca sexta, às 18h, com o filme “A Máquina Infernal”, dentro do projeto Engrenagem Cultural. O curta-metragem, da Desalambrar Filmes, tem 30 minutos e foi gravado na empresa Legas, em Diadema.
O coordenador do Coletivo de Cultura dos Metalúrgicos do ABC, Márcio Boaro, destacou que eventos assim precisam fazer parte do dia a dia do trabalhador. “O filme traz um retrato atemporal do que ocorre em diversas fábricas no país e nos traz uma reflexão de como o capital muitas vezes escraviza a mente dos trabalhadores”, afirmou.
“Seja em filmes, em apresentações musicais, lançamento de livros, a ideia da Engrenagem Cultural é cada vez mais enriquecer as companheiras e os companheiros com cultura, que muitas vezes emana deles mesmos”, destacou.
O diretor do filme, Francis Vogner dos Reis, cresceu em São Bernardo, vem de uma família de metalúrgicos do ABC e conversou com a Tribuna.
Tribuna Metalúrgica – O que a categoria pode esperar do filme?
Francis Vogner dos Reis – É uma fábula contemporânea sobre trabalho só que, ao invés de seguir um caminho mais realista, tem característica mais próxima do pesadelo. Optei por um filme de terror, uma espécie de metáfora sobre desindustrialização e precarização, que dialogasse melhor com os medos do momento em que foi feito, em 2018 e 2019.
Tribuna – Quais reflexões quis levantar a partir do terror?
Francis – No processo de pesquisa, encontrei um processo de desindustrialização e operários, inclusive da minha família, sentindo temor sobre o futuro. É uma reflexão não exatamente como o mundo do trabalho é hoje, mas para onde pode estar caminhando. O filme tem protagonista, mas é um coletivo de trabalhadores mostrando que o destino de um é o destino de todos. Frente a uma possível catástrofe, a saída não é individual.
Tribuna – Qual sua ligação com a categoria?
Francis – Vim de uma família de metalúrgicos de São Bernardo, meu pai trabalhou na Volks de 1979 até o início dos anos 2000, meu cunhado é operário na Mercedes, minha mãe não foi metalúrgica, mas trabalhou em fábrica de embalagem. Muitas das cenas foram tiradas de uma memória comum da minha família, claro que com um salto imaginativo, mas tem muito da experiência e dos sentimentos da realidade operária.
E só foi possível um filho da classe operária trabalhar e viver de cinema por causa das políticas públicas para a cultura dos governos Lula e Dilma. Foi o que possibilitou sonhar e alcançar aquilo que desejava, mas que parecia inalcançável.
Tribuna – O que representa a exibição do filme no Sindicato?
Francis – O filme foi lançado no Festival de Locarno, na Suíça, em 2021, rodamos a Europa, França, Itália, e a exibição no Sindicato é a sua coroação. É um sonho realizado poder estar em um lugar histórico, protagonista da história recente do país. Uma alegria e uma honra levar o filme de volta para quem ele foi feito.
Filmamos na Legas depois que uma empresa deu para trás dez dias antes do início da filmagem. Sem o Nelson e Marcelo Miyazawa, da Legas, não conseguiríamos fazer o filme, inclusive eles disponibilizaram com muita generosidade trabalhadores para nos acompanhar nas filmagens. Agradeço a oportunidade e convido todos e todas para verem o filme e baterem um papo.