Sindicato fecha acordo de formação cidadã com Mercedes-Benz
Montadora é a primeira a assinar o acordo que libera os metalurgicos da base a participar de estudos e debates sobre formação sindical
Raquel Camargo
Programa trará maior enraizamento do Sindicato entre os trabalhadores, afirma Sérgio Nobre
Os metalúrgicos do ABC deram um passo histórico para fortalecer a organização no local de trabalho. A Mercedes-Benz de São Bernardo assinou nesta segunda-feira o Programa Trabalho e Cidadania organizado pelo Sindicato.
A montadora é a primeira empresa a aplicar o acordo inédito no Brasil, que libera os metalúrgicos da base a participar, uma vez por ano, um dia inteiro ao estudo e debate de assuntos inteiramente relacionados à sua formação.
Outras empresas participarão da iniciativa que permitirá aos companheiros entender melhor o que é a convenção coletiva, do que trata a política sindical e ou o que significa trabalho seguro, entre outros temas.
“Hoje começamos a atender uma reivindicação de muitos anos da categoria”, comemorou o presidente do Sindicato, Sérgio Nobre. “Esse acordo representa um avanço comparável à conquista das Comissões de Fábricas”, afirmou.
Organização
“O Programa representa um maior enraizamento do Sindicato entre os trabalhadores, por isso queremos que toda a base participe”, prosseguiu Sérgio Nobre”.
Em um primeiro momento, as aulas acontecerão na sede da CNM-CUT, em São Bernardo. O trabalhador que participar terá o dia pago pela empresa. As demais despesas correrão por conta do Sindicato. Quando estiver totalmente implantado em toda a categoria, a intenção é do curso atender 650 pessoas por dia, de segunda a sexta-feira.
“Com o conhecimento que vão adquirir, os metalúrgicos romperão as barreiras que ainda impedem a negociação dentro das fábricas e aumentarão o poder de sua organização no local de trabalho”, disse o presidente do Sindicato.
Montadora elogia proposta
Segundo o diretor de RH da Mercedes, Marcos Alves, o Programa ajuda também a empresa porque tem o “grande mérito” de permitir que os trabalhadores interpretem melhor a nova realidade existente nas relações entre o capital e o trabalho.
“Grande parte dos trabalhadores na Mercedes é muito jovem e não vivenciou a construção desse relacionamento que acontece há décadas”, destacou. “O sucesso do Programa vai aumentar a compreensão e o entendimento do que significa um acordo coletivo”, afirmou Alves.
Conflito
Eliseu Prata, gerente de Consultoria Trabalhista e de Relações Sindicais da montadora e que negociou o acordo pela empresa, também entende que a proposta beneficia empresa e trabalhadores .
“Trabalho há 25 anos com o assunto na Mercedes e sou testemunha do incrível amadurecimento que essas relações tiveram”, disse. “Acredito que o curso vai mostrar que a época em que vivíamos em conflito o tempo todo já passou”, concluiu Prata.
Formação será permanente
José Paulo Nogueira, diretor responsável pelo Departamento de Formação do Sindicato, que toca o projeto, diz que a grande vantagem para o trabalhador que fizer o curso é o conhecimento que terá do Sindicato e de todo o processo de negociação que acontece com as bancadas patronais.
“Mais para a frente abordaremos outros temas, sempre no sentido de aperfeiçoar o conhecimento da categoria”, afirmou. “É um típico trabalho de formação que será cada vez melhor avaliado com o passar o tempo”, acredita Zé Paulo.
Consciente
Já o coordenador do CSE na Mercedes, Aroaldo Oliveira, salienta que o maior conhecimento que o curso trará vai contribuir muito no trabalho de base realizado no dia a dia da fábrica. “O companheiro mais consciente é o trabalhador melhor organizado”, afirma.
Programa foi a maior conquista na campanha de 2009
Baseado em experiência bem sucedida realizada pelos metalúrgicos do Canadá, a inclusão do Programa Trabalho e Cidadania na Convenção Coletiva foi uma das principais conquistas da categoria nas negociações da Campanha Salarial de 2009.
Para participar, basta o companheiro fazer a inscrição no CSE das fábricas que assinarem o acordo, que encaminhará o nome aos responsáveis pelo Programa no Sindicato.
“Os CSEs terão papel fundamental neste processo. Caberá a eles arrumar um jeito de manter a produção com o envio dos alunos”, explica Walter Souza, diretor responsável. “Afinal, o Programa precisará ser renovado a cada dois anos”, lembra.
Caberá ao CSE definir os alunos, as datas de aulas de cada um e apresentar lista às empresas, que não poderá contestá-la.
Conheça o curso:
- O que é representação sindical e como se dá sua relação com as empresas;
- Negociação como política sindical;
- Convenção Coletiva;
- Papel da representação sindical nesse processo;
- Ergonomia e trabalho seguro;
- Comissões de Cidadania (Juventude, Mulher, Racismo, Pessoas com Deficiência).