Sindicato participa de debate sobre Ford e futuro da indústria
“Não há salvação prevista de que o governo irá se movimentar para apontar um novo caminho”, Wagnão
O presidente do Sindicato Wagner Santana, o Wagnão participou ontem de uma sessão na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) sobre o tema “Como garantir a Ford e o Futuro da Indústria no Estado de São Paulo”. A atividade, realizada e transmitida virtualmente, foi organizada pelo líder da bancada do PT na Alesp, Teonilio Barba e pelo deputado Emídio Souza.
Wagnão destacou que o Brasil passa por um processo acelerado de desindustrialização. “Na década 90, a indústria empregava 5,4 milhões de trabalhadores, o pico foi em 2013 com 8,3 milhões e agora em 2020 são 7,2 milhões. Em um ano, já perdemos 1,1 milhão de trabalhadores na indústria que responde hoje por 11% do PIB, o menor desde 1946, quando já chegou a ter 30% do PIB. Alguns economistas dizem que quando o país atinge 7% não tem indústria, é um país desindustrializado”.
Wagnão lembrou ainda que nos últimos cinco anos, 17 fábricas foram fechadas por dia no Brasil, ou seja, 36 mil empresas a menos no período. “Na Europa isso foi feito de forma muito lenta, há 40 anos, onde houve uma transformação da sociedade, mas no Brasil ainda tem milhões de casas sem geladeiras, celulares, sem acesso a bens industriais, não estamos na fase de transição para substituir por serviços como acontece na Europa, Canadá e EUA, no Brasil existe muito espaço ainda para produção industrial”.
“Não há salvação prevista de que o governo irá se movimentar para apontar um novo caminho. O que nós precisamos é de políticas que o Brasil deixou de fazer, a exemplo do Inovar-Auto que trouxe 80% das marcas de automóveis do mundo para cá. Protegia e incentivava a produção nacional e dava condição de gerar e manter empregos de qualidade. O Brasil precisa repensar sua política industrial e de produção local como forma de desenvolvimento e geração de emprego”, completou.
O deputado Tenillio Barba, trabalhador na Ford por 25 anos, lembrou a atitude do governador João Doria (PSDB) na ocasião do fechamento da fábrica em São Bernardo. “A nossa experiência em São Bernardo foi muito ruim. O governador João Doria se comportou como se fosse corretor para vender a Ford para três ou quatro interessados e acabou não aparecendo ninguém que quisesse ficar com planta, causando um prejuízo enorme pra cidade”.
O secretário geral da IndustriALL Global Union, Valter Sanches parabenizou pela luta e resistência “a uma atitude autoritária, unilateral e desleal da Ford com trabalhadores, que não honra seus acordos de garantia de emprego, mesmo tendo tem incentivos fiscais até 2025, devendo para estado brasileiro”.
“Estamos mobilizando a solidariedade internacional para que reconsidere a decisão. Os sindicatos com representação estão enviando cartas de solidariedade, juntos na luta, para exigir que a empresa retome os compromissos globalmente, que assuma compromissos de que qualquer medida tem que consultar o trabalhador com antecipação. Contem com a nossa solidariedade”.