Sindicato recebe medalha de direitos humanos por reparação na luta contra ditadura
Wagner Santana, o Wagnão, foi homenageado em reunião dos Ministérios Públicos federal, estadual e do Trabalho, em São Paulo, pelo acordo firmado com a Volks em 2020
O ex-presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, recebeu na tarde de ontem a medalha de honra ‘Lúcio Bellentani de Direitos Humanos’ entregue pela Associação Heinrich Plagge, que reúne ex-trabalhadores na Volks vitimados pela perseguição política na empresa entre 1964 e 1985 durante a ditadura militar.
A homenagem foi pelo acordo inédito assinado em setembro de 2020, o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), firmado entre a Volks, ex-trabalhadores na fábrica e os Ministérios Públicos Federal (MPF), do Estado de São Paulo (MPSP) e do Trabalho (MPT). A cerimônia aconteceu no MPT, em São Paulo, e foi regida pelo presidente da Associação, Tarcísio Tadeu Garcia Pereira. Prestigiaram a atividade diretores da Executiva do Sindicato, do CSE na Volks e da AMA-A ABC (Associação dos Metalúrgicos Anistiados e Anistiandos do ABC).
“Essa medalha me honra muito. Dentre os vários acordos que já fiz com a empresa, esse é um dos que mais tenho orgulho porque ele resgata a história e faz justiça a esses companheiros que lutaram para que nós pudéssemos viver hoje não em uma democracia plena, pois boa parte dos brasileiros ainda carece de direitos que ainda são inacessíveis, mas que nos dá o direito de reivindicar, de representar, de sermos representados, de termos sindicatos, de nos organizarmos na sociedade por causa dessas pessoas que correram risco de morte, defendendo direitos que hoje nós usufruímos”, afirmou Wagnão.
Segundo Tarcísio Tadeu, outras nove pessoas foram homenageadas, cinco dos Ministérios Públicos e quatro da sociedade civil. “Entregamos aos procuradores a medalha da Associação, que é uma honraria concedida a todos aqueles que lutaram por direitos humanos e estiveram conosco nesta trajetória. Estamos cumprindo o nosso papel de permanecer firme na trincheira, de resgatar a memória daqueles que foram perseguidos, dos que resistiram, daqueles que se recusam a perder sua ação na história e vamos sempre exercer o protagonismo na defesa da democracia”.
Reparação
A montadora é a primeira grande empresa a admitir sua participação nos anos de chumbo no Brasil. O presidente da Associação lembrou que em três ocasiões a Volks desistiu do acordo e que nesses momentos a intervenção do Sindicato foi fundamental. Ressaltou ainda que o acordo é hoje referência para outras empresas.
“Por meio do Comitê Mundial de Trabalhadores na Volks conseguimos reverter as decisões negativas da empresa. Entendemos que a reparação tem que ser a mais justa possível, é uma reparação necessária para que se construam pontes e condições para que companheiros em outras empresas possam ter a mesma conquista. Esse acordo é referência e vamos cobrar outras empresas, pois o Golpe de 64 foi dado em conluio com o setor patronal”, contou.
Histórico
O caso Lúcio Bellentani foi um dos mais emblemáticos, detido e espancado dentro da empresa em 1972 e 1974. Em 2019, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, a Associação lançou a medalha ‘Lúcio Bellentani de Direitos Humanos’, em reconhecimento a quem fez parte da luta dos trabalhadores.