Sindicato reúne ex-representantes para celebrar 40 anos da Comissão de Fábrica na Volks
Histórias de luta e resistência que começaram antes mesmo da representação oficial, em 1982, foram compartilhadas em encontro de gerações
Em outubro deste ano a Comissão de Fábrica na Volks completa 40 anos de existência e resistência. Para marcar a data, estão sendo realizadas diversas atividades de rememoração. Uma delas ocorreu na manhã de ontem no Sindicato com a presença de ex-representantes que fizeram a luta na fábrica ao longo dessas quatro décadas.
Os ex-presidente do Sindicato e representante na Volks, Wagner Santana, defendeu que parte dos trabalhadores que integraram a Comissão criada pela gerência da empresa em 1981 souberam aproveitar uma oportunidade para ajudar nas lutas ao lado da comissão oficial conquistada no ano seguinte pelo Sindicato.
“Na primeira comissão de fábrica, por muito tempo chamada de pelega, havia militantes nossos que inclusive depois assumiram a comissão conforme acordado com o Sindicato. O entendimento deles era de aproveitar uma oportunidade que a fábrica estava dando para ‘comer por dentro’. Temos muitos companheiros, nossos militantes, que depois assumiram a partir de 1982. É preciso fazer essas correções históricas para não sermos injustos com aqueles que tocaram a vida ao nosso lado lutando as nossas lutas”, detalhou.
Primeira greve e primeiro acordo
Ivonildo Batista Costa, o Ivo Motta, que entrou na Volks em 1984 e ficou até 2016, destacou a participação na greve do primeiro mandato da representação e o primeiro acordo firmado.
“Eu não sabia que existia uma lista dos grevistas, eu participei, peguei na ‘teresa’ e os chefes me viram. Quando cheguei na ala 14 tinha uma lista de três mil pessoas e eu era o segundo e nós rasgamos a lista e jogamos fora”. Também recordo do primeiro acordo de cinco anos de estabilidade que fizemos, isso tem que marcar qualquer trabalhador”.
Luta das mulheres
A primeira representante mulher, Olga Irene do Nascimento, integrante de 1996 a 1998, lembrou de uma conquista que ajudou a trazer mais mulheres para a Volks.
“Não foi fácil naquela época por ser mulher, mas tentei fazer o meu melhor. Foi uma época de luta muito difícil e sempre contei com o apoio de todos. Me recordo que nós conseguimos arrumar vaga no Senai para as mulheres, foi quando a Michelle Marques entrou, naquela época o Senai era só para homens. Isso foi muito gratificante. É importante colocar mais mulheres na Comissão e em todos os lugares”.
Câmara Setorial
Geovaldo Gomes dos Santos, membro da Comissão de Fábrica de 1982 a 1988, lembrou que entrou na fábrica em 1974 e que naquele período trabalhava 48 horas semanais e que quando saiu, em 2003, trabalhava 40 horas. Ele destacou a importante discussão sobre Câmara Setorial.
“Foram organizações tripartites entre o Estado, patrão e sindicatos para discutir certas condições de emprego, trabalho e industrialização. Na época o Brasil produzia 1 milhão de veículos e não tinha nenhum modelo de processo e foi aí que começou a discussão de Câmara Setorial por iniciativa deste Sindicato”.
Grande greve
José Raulino Lima que fez parte da coordenação em 1986, foi vice coordenador de 1989 a 1992 e foi coordenador entre 1992 a 1995 relembrou o aprendizado no início e o fato de mobilizar uma grande greve em três dias.
“Foi um aprendizado, o sindicato foi preparando a gente, foi um desbravar. Um fato que marcou para mim e para toda a Comissão foi um congresso em Piracicaba que seria feito em dois finais de semana, mas no domingo do primeiro final de semana, Lula avisou que os petroleiros tinham entrado em greve e assumiu o compromisso de parar todos os metalúrgicos na quarta-feira. Entramos na fábrica na segunda e na quarta a fábrica estava toda na Anchieta, não só a Volks, mas a Ford, a Mercedes. Foi uma coisa fantástica em três dias parar uma fábrica, tanto é que depois o Sindicato sofreu intervenção e a diretoria foi afastada”.