“Situação será próxima da escravidão e barbárie”
(Foto: Daniel Garcia)
Em entrevista à Tribuna, o professor livre-docente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, ligado ao Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social, Marcus Orione, explicou os prejuízos da reforma Trabalhista para a classe trabalhadora e como pode provocar uma situação de barbárie na sociedade, com a terceirização.
Tribuna – Quais os principais prejuízos para os trabalhadores com a reforma Trabalhista?
Marcus Orione – É muito importante mostrar que a reforma Trabalhista tem três eixos. O primeiro é a desconstrução do contrato individual de trabalho, com uma maior imposição de encargos aos trabalhadores.
O segundo é no plano do direito coletivo do trabalho com a diminuição da representatividade das entidades sindicais. E o terceiro é quando isso tudo falhar e o trabalhador quiser ir ao judiciário, a reforma dificulta o acesso à justiça.
A empresa ficará com várias modalidades contratuais precarizantes, como as jornadas parcial e intermitente. Isso significa o verdadeiro desmonte do que protegia o trabalhador.
Tribuna – Como fica a representação dos trabalhadores?
Marcus Orione – A reforma começa a vedar cada vez mais a participação dos sindicatos nas negociações. Uma das chaves disso é a representação ser independente da participação do sindicato.
Em um sistema que não tem uma elevada proteção contra condutas antissindicais, o patrão pode incentivar algum trabalhador a fazer parte dessa representação e provocar renúncias coletivas a vários direitos.
Há um conjunto de medidas que levam à total precarização das relações de trabalho.
Tribuna – Quais as consequências dessas medidas para a sociedade?
Marcus Orione – O que faz a relação de empregado-trabalhador ser diferente da relação escravo com o seu senhor é o fato de que o empregador não pode agir diretamente sobre trabalhador. Antigamente quando o escravo fazia algo que o senhor não gostava ele chicoteava. Como hoje não pode fazer isso, tem que criar mecanismos de intermediação em que a pessoa tenha a sensação, por meio de agentes externos, principalmente com a lei, de que ele vai poder vender a sua força de trabalho de forma livre para qualquer empregador.
Quanto mais vai diminuindo o nível de proteção, isso mostra claramente que esse sistema, executivo, legislativo e judiciário, tem um lado. Estão muito mais próximos do interesse do capital do que do trabalhador, o que é bastante estarrecedor ao rumar para outro modo de produção em que a coerção passa a ser mais direta e volta a uma situação muito próxima de situações anteriores como a escravidão e, assim, a barbárie.
Isso pode ser transformador se a classe trabalhadora estiver com projeto político bem pensado ou pode levar a um maior nível de exploração.
Tribuna – Como fica a terceirização nesse contexto?
Marcus Orione – A terceirização é o golpe final na classe trabalhadora na perspectiva da legalidade. Quanto mais terceiriza a atividade, mais coloca o trabalhador com menor quantidade de proteções e ele fica muito vulnerável. Não é incomum terceirizados sem ter base fixa de trabalho, jogado de um lado para o outro, não cria identidade com outro trabalhador e isso bate a fundo na perspectiva de solidariedade de classe.
Acompanhe mais da entrevista com o professor nas próximas Tribunas.