“Só tive ônus, bônus, não colhi”, diz Lurian sobre o fato de ser filha de Lula

Revsita IstoÉ traz reportagem com a filha do presidente da República na qual fala sobre as dificuldades que enfrenta desde a ascensão de Lula ao poder

A primeira vez que Lurian Cordeiro Lula da Silva apareceu na política nacional foi como pivô de uma das maiores baixarias eleitorais. Na reta final da eleição presidencial de 1989, Fernando Collor exibiu na tevê depoimento da enfermeira Miriam Cordeiro acusando seu ex-namorado, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, de incitála a fazer um aborto. Lurian, então com 15 anos, chegou a defender o pai na televisão. Depois que Lula foi eleito, ela voltou a ser personagem política ao ser acusada de desvio de dinheiro da ONG Rede 13 e de uso irregular do cartão corporativo do governo federal.

Hoje, jornalista formada, ela resolveu entrar para valer na vida pública. Acaba de assumir a Secretaria de Ação Social do município de São José, na região metropolitana de Florianópolis. “Agora é Lurian”, diz ela nesta entrevista à ISTOÉ, a primeira vez em que responde às acusações e comenta as agruras sofridas por ser filha de quem é. “Só tive ônus. Bônus, não colhi nenhum.” Antes de assumir a secretaria, procurou Lula. “Aceita, aceita”, disse o pai.

Mas garantiu que não o consultará sobre gestão. Casada e mãe de um casal de filhos, diz que sua família tem uma vida simples, sem ostentação. “Não sou filha do presidente, estou filha do presidente.” Como secretária, anuncia a extinção da “arcaica” cesta básica – tradicional moeda de troca na política – e pretende criar o cartão-cidadão para as famílias carentes escolherem livremente seus alimentos.

ISTOÉ – Por que você aceitou o convite para ser secretária de Ação Social de São José? Lurian Silva – Ninguém me dava espaço. É a primeira vez que acreditam na Lurian.

ISTOÉ – Ser filha do presidente não traz vantagens? Lurian – Só tive ônus. Bônus, não colhi nenhum.

ISTOÉ – Então, ser filha do presidente Lula não traz nenhum bônus? Lurian – Falaram que ia ter ônus

“Para mim é muito difícil falar: ´Sou a Lurian, filha do presidente Lula.´ Isso para mim significa ostentar e eu não gosto de ostentar”

É bônus. Todo mundo deve imaginar: “Ela tem um monte de benefícios.” Tenho muito orgulho, defendo ele, visto a camisa. Tenho segurança? Tenho, mas porque é constitucional. Não tenho segurança porque eu fui lá e falei: “Olha, eu sou linda, maravilhosa, quero ter um segurança para mim.” Não sou filha do presidente, eu estou filha do presidente, isso está bem claro. Tenho que passar isso para minha filha. O meu filho pequeno, quando falam na televisão: “O presidente Lula”, ele dá risada. Ele fala: “Presidente? Ele é meu avô.” Faço questão de passar isso para minha filha: “Você cai nessa de presidente, daqui a pouco isso passa e eu quero saber quem vai sobrar ao seu lado, porque agora, para as amigas, tudo é festa.” A gente faz questão de manter o pé no chão.

ISTOÉ – É a primeira vez que a convidam para um cargo? Lurian – O irmão do prefeito Djalma Berger, o Dário, que é prefeito de Florianópolis, tinha me convidado no ano passado. Só que era começo do período eleitoral e eu achava que poderia trazer prejuízos tanto para ele quanto para mim, porque nós também tínhamos o candidato lá, que era do PT.

ISTOÉ – Você teve que se desfiliar do PT para aceitar o convite?Lurian – Eu me licenciei, por uma questão de respeito à oposição do PT, mas sou filiada ao PT de Blumenau. O PT de Blumenau me deu todo o apoio quando fui convidada.

ISTOÉ – O que você pretende fazer à frente da secretaria? Lurian – Dar dignidade para o município. O que a gente gasta em cesta básica, vamos reverter para o cartãocidadão, com o qual ele irá ao mercado e poderá comprar o que quiser.

Revista IstoÉ