Sociedade precisa se envolver

Entrevista com José Graziano da Silva, Ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome

Como está o programa em Guaribas e Acauã?

As pessoas receberam o cartão-alimentação depois dos comitês locais checarem as listas apresentadas e fiscalizarem esse recebimento. A idéia é que os programas de alimentação estejam ligados a outros programas. Quem recebe o cartão precisa dar a contrapartida, que no caso é participar dos programas de alfabetização.

Não seria melhor distribuir alimentos?
Não se combate a fome com cestas básicas. Elas acabam com a agricultura das cidades, pois os agricultores não têm para quem vender. A solução é produzir lá mesmo e estimular o desenvolvimento local.

Como será feito isso?
Implantamos em Guaribas um posto do correio e outro da Caixa Econômica Federal, que pagam as aposentadorias e benefícios lá mesmo. Antes, as pessoas viajavam 40 quilômetros para receber o dinheiro, e aproveitavam para fazer a compra do mês na cidade vizinha. Agora, elas têm condições de comprar na feirinha do produtor, também implantada em Guaribas pelo programa. É preciso deixar claro que o Fome Zero depende do desenvolvimento da economia, do fortalecimento do mercado interno.

Quais os maiores problemas?
É a falta de infra estrutura para escoamento da produção agrícola. Aqui no Brasil não existe falta de alimentos. O País joga alimentos fora. O problema é a distribuição de renda, falta dinheiro para garantir comida. Nossa indústria alimentícia trabalha com capacidade ociosa.

Como as pessoas poderão participar?
Doando dinheiro, e vamos ter uma conta para isso, ou doando alimentos. As pessoas também poderão participar doando serviços, na forma de voluntariado.

Quais os projetos para as grandes cidades?
Nas grandes cidades o cartão-alimentação poderá ser usado nos supermercados para comprar alimentos, excluindo cigarros e bebidas.

E vamos implantar três ações:
– implantação do restaurante popular nas casas de família, que receberão micro-créditos. Os restaurantes também vão gerar emprego e renda.
– o banco de alimentos, nos moldes do já existente em Santo André, que com pequena infra estrutura cria uma central de recebimento para encaminhar os alimentos às entidades.
– teremos também as cozinhas comunitárias, que estão sendo pensadas tendo como alvo as famílias de catadores de lixo e as pessoas que vivem dos lixões.

Também estamos pensando em programas voltados às creches. E vamos recuperar o Programa de Alimentação do Trabalhador, que é o tiquete.

Hoje ele virou moeda, é uma vergonha, e queremos acabar com a fraude para poder ampliar esse programa.

Qual o papel das prefeituras?
As prefeituras deverão cuidar da central de abastecimento. E também poderão adotar uma das mil cidades relacionadas como prioridade do Fome Zero.

Diadema já escolheu a cidade de Itinga para ajudar na criação de um sistema de arrecadação de impostos.

E como as pessoas podem ajudar?
A partir da próxima semana vamos começar a veicular comerciais nos jornais, rádios e tevês orientando as pessoas. Temos também o site www.fomezero.gov.br.

Somente com o envolvimento da sociedade é que vamos acabar com essa vergonha que é a fome, e que atinge quase um terço da população brasileira.