Solidariedade aos flagelados da seca

Nosso Sindicato está começando mais uma campanha de arrecadação de alimentos destinados aos flagelados da seca. Como em 1998, pretendemos arrecadar nos próximos dias 100 toneladas de alimentos não perecíveis nas portas das fábricas do ABC e nas regionais do nosso sindicato. A população também poderá contribuir. E vamos desafiar os empresários da região a colaborarem com igual quantidade para esta campanha.

Por que repetir novamente tudo isto?

Não nos parecemos nem um pouco com o paraíso tropical que dispõe de 12% de toda a água potável do mundo! O que era crise de energia agora também é falta d’água, mais miséria e mais exclusão social. Em nove Estados do Nordeste, 650 municípios, 11 milhões de brasileiros vivem o duplo flagelo da falta de luz e de água.

Mas, que ninguém se engane. A tragédia não ficará limitada ao Nordeste. Seus reflexos já começaram a nos alcançar. A Rede Globo tem mostrado insistentemente cenas chocantes – uma família de migrantes nordestinos que perambulava pelas ruas de São Paulo e que, há um mês, não via um prato de comida.

De quem é a culpa agora? Também de Deus? Não. De novo é a irresponsabilidade de FHC. Com os olhos voltados apenas para atender ao FMI ele esqueceu-se de que o povo brasileiro precisa continuar bebendo água: dos R$ 1,13 bilhão do orçamento destinado ao Proágua, apenas 2,14% foram executados até 19 de maio. As ameaças de falta d’água em regiões inteiras, inclusive São Paulo, continuam sem solução.

Nós sabemos de quem é a responsabilidade. Sabemos que para evitar novos apagões e acabar com a indústria da seca neste País precisamos de mudanças profundas na economia e na sociedade brasileira. Mas, enquanto estas mudanças não vêm, não podemos ficar de braços cruzados assistindo passivamente mais esta tragédia que afeta nossos irmãos do nordeste.

Vivemos uma era de grandes dificuldades. Recessão, desemprego, corrupção, indicadores econômicos e sociais todos apontando no sentido de mais exclusão e miséria. Remédios? Apenas um, a solidariedade. É com esta ferramenta que conseguimos manter de forma cooperativada centenas de empregos, indústrias inteiras, como a ex-Conforja, em Diadema.

É verdade que temos grandes desafios pela frente. O apagão – o mais perverso tributo que a sociedade brasileira pagará ao FMI – vai exigir de nós sacrifícios que sequer somos capazes de imaginar. As cooperativas da ex-Conforja, por exemplo, depois de vários anos lutando contra o regime falimentar de sua origem, vinham multiplicando sua produção nos últimos meses. Por conta do apagão, serão obrigadas a diminuir quase pela metade o ritmo de produção para atender o racionamento planejado pelo governo.

Mas quanto mais dificuldade mais importante a solidariedade. É a única receita capaz de manter viva a esperança de um Brasil que acredita num futuro com justiça e paz para todos. Apesar da onda de irresponsabilidade e de corrupção que toma conta do País.

As doações de alimentos não perecíveis podem ser feitas nos seguintes endereços: em São Bernardo, rua João Basso, 231, Centro; em Santo André, rua Senador Flaquer, 813, Centro; em Diadema, Av. Encarnação, 290, Piraporinha. Contatos pelo telefone 41273922.

Luiz Marinho é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, presidente de honra da Unisol-União e Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo e Coordenador do Mova Regional