“Somos herdeiros dessa luta histórica”
Encontro de Gerações celebra os 66 anos de trajetória dos Metalúrgicos do ABC e reforça compromisso com o futuro da classe trabalhadora

“Se hoje tem assembleia dentro da fábrica, se a gente discute investimento com montadora, é porque alguém lá atrás lutou muito por isso”. Com essa lembrança emocionada, o presidente dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, abriu sua fala no Encontro de Gerações, realizado no último sábado, 17, na Sede, em São Bernardo. O evento reuniu dirigentes e militantes de diversas épocas para celebrar os 66 anos da entidade, completados no último dia 12 de maio, e reafirmar o compromisso com a classe trabalhadora frente aos desafios do presente e do futuro.
Fundado em 1959, no auge da industrialização do Grande ABC, o Sindicato enfrentou os anos de chumbo da ditadura militar, liderou greves históricas a partir de 1978 e tornou-se referência na construção de um novo sindicalismo, combativo, democrático e de base. Dali nasceram a CUT, o Partido dos Trabalhadores e um projeto político que colocou um operário três vezes na Presidência da República: Luiz Inácio Lula da Silva.

“Tem gente que acha que a conjuntura está difícil hoje, imagina como era lá atrás. Mesmo assim, nos entregaram um Sindicato forte, com conquistas e evolução. Herdamos uma estrutura de luta construída com muito sacrifício”, afirmou Moisés. Ele destacou que conquistas como assembleias na fábrica, atuação internacional e diálogo com matrizes multinacionais são frutos de uma histórica organização e consciência. “Esse Sindicato vai além do portão da fábrica. Ele luta por moradia, saúde, cultura e educação. Trabalha para entregar à próxima geração uma sociedade mais justa e fraterna”.
Protagonismo

Luiz Marinho, atual ministro do Trabalho e Emprego e ex-presidente do Sindicato, reforçou a necessidade de continuidade da luta. “Nos anos 80, a repressão da ditadura se reproduzia nas fábricas. Dirigentes sindicais apanhavam dos seguranças dentro das montadoras e autopeças. Foi com coragem e ousadia que conquistamos comissões de fábrica, comitês sindicais, Participação nos Lucros e Resultados e as CIPAs. Nada disso existia. Somos herdeiros dessa luta histórica”.
Para ele, se depender da elite e da direita brasileira, tudo isso será desmontado. “Conquistas como o papel da mulher na economia, o combate aos preconceitos foram resultado de muita luta. E o nosso Sindicato sempre teve a capacidade de antecipar debates e servir de farol para a classe trabalhadora. Essa é nossa responsabilidade com as novas gerações. Mas ainda temos muito a conquistar e reconquistar”.

O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, destacou o protagonismo dos Metalúrgicos do ABC na história do país. “Eu ando o Brasil inteiro e posso afirmar: nenhum sindicato produz militância como este. Foi decisivo na derrota da ditadura militar, na fundação da CUT, que hoje é a quinta maior central sindical do mundo. E eu sou o sétimo presidente nacional da entidade na história. E, dos sete presidentes, quatro são metalúrgicos, todos são dessa casa. É uma grande honra”.

“Muita gente diz que estamos velhos. Eu não. Sou um jovem que deu certo. Hoje é dia de alegria e reencontro. Gostaria de lembrar a importância dos trabalhadores dos anos 80, do tempo do Lula, eles foram guerreiros. No fim da intervenção, fizeram um corredor e xingaram o interventor. Eles merecem nosso reconhecimento e foram parte dessa história”, Jair Meneguelli, ex-presidente do Sindicato

“A juventude tem a obrigação democrática de ocupar esse espaço. Cabe a nós, que construímos essa história, dar o apoio e fazer a transição. Temos o dever de provocar a juventude. De mostrar que os ideais não podem se basear na meritocracia ou sucesso individual, mas no coletivo, na solidariedade e construção de uma sociedade justa e fraterna”, Wagner Santana, o Wagnão, ex-presidente do Sindicato

“Hoje só estou aqui porque muitas mulheres lutaram lá atrás. Essas mulheres, junto a todos os companheiros que nos antecederam, são fundamentais e sou profundamente grata por isso. Nosso Sindicato mostra que somos todos iguais, somos trabalhadoras e trabalhadores. É com esse sentimento de igualdade e pertencimento que seguimos em frente”, Andréa de Sousa, a Nega, diretora executiva do Sindicato

“Quando entrei no movimento sindical, as condições de trabalho eram diferentes, precárias, quase inexistentes. Trabalhava em uma pequena fábrica de autopeças, em Diadema, e fazíamos greve por melhores condições de trabalho. Com o Sindicato, consegui estudar, construir minha família. Hoje, estou na CUT e contribuo com toda a sociedade”, Maria da Paixão, da Comissão de Fábrica Filtros Nasa de 1981

“A juventude está presente, sim. Estamos nos formando, politicamente também, saindo do Senai, entrando na linha de produção, graças ao Sindicato e aos representantes que estão sempre com a gente. Eles conversam, contam histórias, explicam a política e é sobre isso que estamos falando: a construção do conhecimento, da consciência de classe”, Beatriz Batan da Silva, a Bia, trabalhadora na Volks