Sônia Braga: Obrigado, Jorge Amado

Sônia
Braga se considera uma colagem das mulheres do
escritor
baiano – Gabriela e Dona Flor – e se diz grata a
elas:
“Se algum dia me viram como mulher bonita, a culpa
é do
Jorge Amado”

Por Karen Santos

Quem ronda a fase quarentona da vida conheceu Sônia Braga
como
Ana Maria, do programa infantil Vila Sésamo, no
início
dos anos 70. Foi crescendo com ela vendo A Moreninha, depois Gabriela,
Cravo e Canela – primeiro a novela, depois o filme
–, Dona
Flor e Seus Dois Maridos… De repente, sumiu. Foi viver nos Estados
Unidos e só voltou agora, duas décadas e duas
dezenas de
filmes depois, aos 55 anos, em mais uma novela global. Antes de
conhecer o estrelato, Sônia viveu de perto no final dos anos
60 o
mundo sexo-drogas-e-rock’n’roll.
“Salvou-se”
aos 18 anos, quando foi parar no elenco da peça Hair e
não largou mais a vida de atriz. Virou musa de Caetano
Veloso,
na música Tigresa – mas na entrevista por telefone
não deu tempo de perguntar por que ela tinha muito
ódio
no coração. Na poesia, a personagem de Gabriela,
de Jorge
Amado, encontra sua mais perfeita definição num
verso de
Vinicius de Moraes – “uma mulher que é
como a
própria lua: tão linda que só espalha
sofrimento,
tão cheia de pudor que vive nua”. Na vida real,
segundo o
próprio Amado, Gabriela só podia ser
Sônia Braga.
É a ele e a Zélia Gattai – antes de Ivo
Pitanguy
– que Sônia atribui a sua beleza. Trata-se,
portanto,
não de um produto fabricado pela mídia
televisiva, mas
antes, de uma obra da literatura brasileira.

Depois de tantos convites, por que só agora
você aceitou voltar a trabalhar no Brasil?

Eu sempre estive aberta à possibilidade de voltar. O que
aconteceu é que esses convites coincidiram com outros
projetos
meus lá fora. Sempre tinha um contrato, alguma coisa que
emperrava. Desta vez, calhou de dar certo. Foi o destino. Parece que
decidi de repente, mas não foi. Essa volta demorou quase dez
anos para se concretizar. Meu manager estava negociando isso

tempos.

Havia muita cobrança do público para o
seu retorno?

Muita. E que responsabilidade voltar em uma novela (risos)! Estou feliz
por essa volta ser na Globo, que faz parte da história do
que eu
sou. Agora sou eu que estou andando pelas ruas falando:
“Gente,
voltei, sou a Sônia Braga, lembram de mim?” (risos).

Como lida com a ciumeira dos outros autores brasileiros que a
convidaram para voltar e ouviram “não”
como resposta?

São todos amigos queridos. Já avisei que eles
não escapam de mim agora (risos).



Sônia Braga em Gabriela, de 1975

Mas retornar agora é apenas uma escolha
profissional? Ou não estavam rolando trabalhos legais nos
EUA?

Já existia uma intenção minha de
voltar
fisicamente para o Brasil, tanto é que arrumei uma casa em
Niterói (Rio). Mas não quero deixar os EUA. Gosto
muito
do meu estilo de trabalho lá. Sempre escolhi o que fazer,
desde
os filmes às pequenas participações.
Se me
apaixono por filmes simples, independentes, vou lá e
faço. Fiz muitos projetos assim, coisas que não
chegaram
na tela grande, mas correram festivais, ganha