“Soube da morte pela televisão”

“Quando meu pai morreu, eu tinha cinco anos. Ele era brincalhão e cantava para eu dormir. Lembro que a gente mudava constantemente de casa e que minha minha irmã foi matriculada com nome falso. Os filhos também se tornavam clandestinos.

Meus pais não deixavam a gente brincar com a criançada da rua, alegando que criança fala demais.

Em 1967, ele pede demissão da empresa em que trabalhava, cai na clandestinidade e todos nós mudamos para São Paulo. Dois anos depois meu pai é preso e trocado pelo embaixador, indo para a Argélia. Imaginamos que ele ficaria muito tempo fora do País. Ficamos sabendo da morte dele pela televisão, foi um choque grande, duro de aguentar.

O noticiário dizia: morreu o primeiro terrorista trocado pelo embaixador alemão. Mudamos para o Chile, mas mesmo assim me sentia numa constante insegurança, um medo muito grande. Cinco meses antes do golpe militar que aconteceu lá também, fomos para Cuba.

Aí eu me senti protegida. Fui estudar com tranquilidade, fiz muitas amizades. Tivemos apoio e carinho, lá é minha segunda pátria. Em Cuba eu tinha certeza que minha mãe não seria presa ou morta.

Meu pai deixou um legado de esperança, de que vale a pena lutar, mesmo que tenha de entregar a vida”.

Célia Coqueiro, filha