Spread bancário aumenta e deixa empréstimos caros, apesar da queda dos juros

Medidas do governo reduziram custo de captação do dinheiro, mas bancos não repassaram aos clientes

Sob o pretexto da crise financeira e das perspectivas negativas para o Brasil, bancos embolsaram parte da queda do custo de captação de recursos e, pela sexta vez seguida, elevaram o spread cobrado nas operações de crédito. Isso anulou completamente as medidas adotadas pelo governo para baratear os empréstimos, como a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e dos depósitos compulsórios e a queda da taxa básica de juros (Selic). De acordo com dados divulgados na terça-feira (27) pelo Banco Central (BC), o spread médio do sistema financeiro foi de 30,6 pontos porcentuais em dezembro, o mais alto desde agosto de 2003. Em novembro, estava em 30,1 pontos.

O spread é a diferença entre a taxa de captação dos bancos e o quanto as instituições cobram para emprestar os recursos aos seus clientes. Esse indicador está na mira do governo e foi diretamente criticado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, embora a entidade ainda não tenha tomado nenhuma atitude mais dura para forçar as instituições a reduzi-los.

Dados do BC mostram que o custo de captação caiu de 13,9% ao ano em novembro para 12,6% em dezembro. Mas a queda não foi repassada integralmente aos clientes porque a margem de lucro do banco aumentou. Entre os dois meses, o juro médio cobrado pelos bancos caiu de 44% para 43,2% ao ano.

Se a queda fosse repassada integralmente, os juros finais cairiam para 42,7% ao ano. Em um empréstimo de R$ 10 mil por um ano, essa taxa significaria uma economia de R$ 50.

A alta no spread bancário se deu essencialmente nas operações de pessoa física. Em novembro, o indicador estava em 43,1 pontos e, em dezembro, fechou em 45,1 pontos, o mais alto desde setembro de 2004. A taxa de captação dos bancos nas operações com pessoa física caiu 2,2 pontos, mas os juros cobrados das famílias baixou apenas 0,2 ponto na média, para 58% ao ano. Com isso, os bancos embolsaram 2 pontos porcentuais da queda no custo de captação. Em um empréstimo de R$ 10 mil por um ano, essa diferença significa R$ 200.

A alta no spread para pessoa física é generalizada. O movimento mais forte ocorreu na aquisição de bens – exceto veículos -, cujo spread subiu de 52,9 para 60,9 pontos porcentuais. No cheque especial, a alta foi mais fraca, embora suficiente para ficar no maior nível da série: 162,5 pontos.

Nas operações com as empresas, o menor custo de captação de dezembro foi integralmente repassado nos financiamentos. Dessa forma, o spread permaneceu em 18,3 pontos porcentuais, ainda o mais alto da série do BC.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirmou que a alta vem do temor do aumento de calotes por conta da crise externa. “As instituições estão se colocando no mercado de forma conservadora, com temor diante do risco de inadimplência.”

BANCOS
A divulgação pelo BC de dados que mostram um aumento do spread acirrou ainda mais a queda-de-braço entre o governo e os bancos privados. Como contraponto aos dados oficiais, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), estrategicamente, resolveu divulgar hoje balanço que mostra o spread efetivo em nível mais baixo que o apontado pelo BC.

Na prática, a decisão da Febraban é vista dentro do governo como um questionamento público da metodologia do BC. O governo, por sua vez, ameaça com uma intervenção maior do Estado no setor, com o uso dos bancos públicos

Do Estado de S. Paulo