Stédile: a burguesia tem medo do governo Lula

O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, João Pedro Stédile, quer a união dos movimentos sociais e o povo na rua para fazer o governo Lula mudar o modelo econômico e  imprimir políticas que garantam a reforma agrária e a distribuição de renda. Para ele, a corrupção é um problema do Estado e as elites criaram uma crise para desgatar o governo Lula. Leia os principais trechos da entrevista que ele concedeu ao Tribuna no Ar, programa de rádio do Sindicato.

A elite quer desgastar Lula

Por que o senhor afirma que o Estado é corrupto?
O Estado funciona na base da corrupção, que são as trocas de favores entre os grupos dominantes. A burguesia, que passou o tempo inteiro roubando, agora cria uma espécie de fim de mundo com o Estado que eles mesmo criaram, com o objetivo de tentar desgastar o governo Lula para garantir a continuidade do projeto neoliberal. A burguesia tem medo do governo Lula ir mais para a esquerda. A elite quer criar um fato novo para isolar e desmoralizar o governo Lula e derrotá-lo nas eleições de 2006, garantindo a volta de FHC.

E qual o papel da imprensa nisso tudo?
A Veja, o Estado, a Folha mentem. Eles fizeram isso na ditadura. Mesmo vocês, trabalhadores do ABC, se dessem bola para a Globo, não existiria o Lula, não construiriam esse grande movimento.

A imprensa é perversa, quer ganhar dinheiro e não tem ética. Ganhei processo contra a Veja e vão me indenizar porque a revista colocou minha foto na capa, com chifre, como se fosse um demônio, para desmoralizar o MST e a luta pela reforma agrária.

A imprensa se comporta como braço ideológico da burguesia. É por isso que temos de construir meios alternativos de comunicação.

Por isto é que os movimentos sociais procuram aproximação com o governo?
Agora, mais do que nunca, os movimentos sociais devem se organizar. Nosso papel é reaglutinar o movimento social, dar unidade para fazer mudanças contra a corrupção e estimular as lutas sociais, porque é através das manifestações de rua, das mobilizações, que o povo vai se animando, vai encontrando saídas.

Temos um calendário de luta. Em Goiânia colocamos 20 mil em passeata, temos outra manifestação no dia 8 em São Bernardo, dia 13 em Porto Alegre, e até o final de julho acontece outra no Rio.

Vamos potencializar um calendário comum, reanimar o povo e construir uma grande aliança. Com um grande movimento de massas, vamos fazer o governo Lula mudar a política econômica e fazer ele se voltar ainda mais para o povo brasileiro.

O que o senhor acha que deve ser mudado na política?
Estamos cansados de falar para o Lula mudar a política econômica, pois ela não interessa ao povo. Dos 300 bilhões de reais que o Tesouro Nacional recolhe todo ano de impostos, 120 bilhões de reais vão para pagar os bancos. É todo um esforço da sociedade que, pelo caminho do Estado, vai se concentrar nas mãos dos bancos.

Dos 3,7 bilhões de reais aprovados para a reforma agrária, 1,7 bilhão de reais foram contingencia-dos pelo ministério da Fazenda.

E por que do corte?
No ano passado reunimos 15 mil pessoas em conferência nacional para entender porque a reforma agrária é difícil se temos um governo a favor.

A resposta é que o Estado foi construído para defender privilégios daqueles que têm capital.

Temos dois exemplos. O governo determinou que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) comprasse toda a produção agrícola dos assentamentos. Não deu certo porque a Conab não tem caminhão para ir até o interior. É uma vergonha.

Lula também determinou a contratação de 4 mil servidores para trabalhar na reforma agrária. Um ano depois só foram contratados 130. A conclusão é que o Estado não consegue trabalhar para o pobre.

O governo deve ter cuidado com os aliados no Congresso?
Eles não são