Subsidiárias ganham peso na exportação de produtos

As trocas entre subsidiárias do mesmo grupo instaladas em países diferentes sustentam parte cada vez mais importante da exportação brasileira de manufaturados. Para destinos como Alemanha e Argentina, o peso e o valor do comércio de manufaturados entre matriz e controladas no país ou entre duas subsidiárias cresceu entre 2005 e 2010.

Entre as 20 maiores empresas que exportaram acima de US$ 50 milhões do Brasil para a Alemanha no ano passado, seis companhias são fabricantes de manufaturados (as demais enviam produtos básicos ou semimanufaturados). Das que vendem manufaturados, cinco – Mercedes -Benz, Volkswagen, Robert Bosch, Schaeffler e Siemens – são companhias de capital alemão que também estão entre os maiores importadores brasileiros de produtos originados da Alemanha. Em 2005, apenas 13 empresas exportaram acima de US$ 50 milhões do Brasil para a Alemanha. Dentro daquele grupo, quatro eram indústrias de manufaturados com capital alemão, também presentes entre os maiores importadores no Brasil de produtos vindos da Alemanha.

Em outro destino importante de manufaturados, a Argentina, 14 fabricantes estavam na lista dos 20 maiores exportadores do Brasil no ano passado. Desses, nove também estão no grupo dos maiores importadores do país vizinho, o que reflete um intenso comércio intracompanhia. Todas as nove empresas são montadoras, beneficiadas pelo acordo automotivo.

Em 2005, das 20 maiores empresas exportadoras do Brasil para a Argentina, 11 eram fabricantes de manufaturados. Dentro do grupo, sete também figuravam na lista dos maiores importadores de produtos argentinos.

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que as trocas intracompanhia representam cerca de 70% do comércio internacional, mas a tendência é que fiquem cada vez mais representativas nas exportações brasileiras. Isso significa que essas exportações são decididas fora do Brasil, na matriz das companhias multinacionais, que tentam distribuir da forma mais vantajosa possível sua produção de manufaturados nas diversas unidades de produção que possuem no mundo.

Ele lembra que as exportações de empresas nacionais se concen tram em setores como o calçadista, de vestuário e de móveis. “Esses setores estão sofrendo mais para recuperar as exportações, enquanto outros segmentos de manufaturados, mais dominados por empresas multinacionais, têm menos dificuldade.” Em 2005, a exportação de calçados, vestuário e madeira e seus artefatos representavam 13,46% das exportações brasileiras de manufaturados. No ano passado, a fatia caiu para 9,67%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, diz que o Brasil tem reduzido sua capacidade de produzir manufaturados de maior valor agregado. “A curva de custos para essa produção aumentou muito nos últimos anos em razão do encarecimento da mão de obra.” A taxa de câmbio, com desvalorização do dólar frente ao real, contribui para tirar a rentabilidade das exportações, que são vantajosas somente se os preços são mais altos, o que é atualmente o caso das commodities agrícolas e minerais. Isso contribuiu para a redução dos manufaturados nas exportações totais do país. Em 2005, essa classe de produtos representava 55,1% das vendas brasileiras ao exterior. No ano passado, essa participação recuou para 39,4%.

“Se não fosse o comércio entre subsidiárias do mesmo grupo das companhias multinacionais a fatia dos manufaturados brasileiros teria caído muito mais”, diz Castro. Ele lembra que essas trocas entre empresas ficaram muito mais atrativas depois que o Banco Central permitiu que os exportadores mantenham fora do país as receitas em dólar de suas exportações.
Até 2008, os exportadores eram obrigados a trazer ao país as receitas obtidas com os embarques. Em 2010, quando as exportações brasileiras se recuperaram, a medida voltou a fazer mais diferença. Castro diz que as trocas intracompanhia acabam tendo apenas câmbio para os saldos comerciais nas trocas entre as subsidiárias. “Não se faz mais o câmbio para cada exportação e importação.”

A estratégia de reduzir as operações de câmbio permite economia de 0,2% a 0,3% sobre as operações no caso das grandes companhias. “Esses percentuais, fazem grande diferença nos preços negociados os volumes e valores são sempre muito grandes.”

Do Valor Econômico