Tão modernos…tão conservadores

“Como podemos ser tão modernos e ao mesmo tempo tão conservadores?” O professor Mário Theodoro nos colocou esta questão para reflexão em curso organizado pelas Comissões de Cidadania do Sindicato, alguns dias atrás.
Como podem se sobrepor realidades tão contrastantes?
A de um País que recebe prêmios internacionais por sua capacidade inovadora na reciclagem de alumínio, quando as latinhas foram recolhidas por crianças em meio à madrugada?
E quando chegamos mais perto, observamos, não apenas na situação descrita acima, mas em todos os espaços sociais onde há maior nível de pobreza e exclusão, que estes espaços têm cor: são compostos de homens, mulheres e crianças negras.
Como uma sociedade com tamanha riqueza produzida, que se projeta no mundo como referência de desenvolvimento, pode permitir que ainda nos dias de hoje testemunhemos esta divisão
entre cidadãos de primeira e segunda classes?
As explicações, segundo o professor Mário, residem numa história pouco visitada, a história do trabalho no Brasil vivenciada antes da abolição da escravidão, e na escolha política feita na transição entre trabalho escravo e o trabalho assalariado no Brasil.
Após a abolição, não foi destinada nenhuma política pública aos homens e mulheres que produziram toda a riqueza do País ao longo de 350 anos, com o objetivo de incluí-los no novo formato adquirido pelo trabalho.
Pelo contrário, as terras, desde 1850, passaram a ser compradas, e os imigrantes chegavam para os trabalhos nas fábricas, consolidando, desde a sua raiz, uma sociedade
dividida e hierarquizada.
A conseqüência destas escolhas políticas foi a naturalização dos espaços reservados a determinado grupo e o tratamento desumano dispensado a ele. A justificativa primeira de inferioridade biológica vigorou até 1930, quando nasce uma outra, a da democracia racial. E, a partir de então, o preconceito e o racismo se escondem…
“Atropelamos a igualdade para chegar a modernidade, que não virá sem retornar a ela…”, afirma o professor Mário Theodoro.
A luta pelo Estatuto da Igualdade Racial, pelo não preconceito e contra o racismo, não é dos negros, é de todos os que desejam uma sociedade democrática.

Departamento de Formação