Tecnologia existe. Falta inclusão.
Equipamentos e tecnologia para a reabilitação e acessibilidade a pessoas com deficiência são dos mais avançados, mas o alto custo dos produtos ainda passa longe da indispensável inclusão.
Alta tecnologia, baixa inclusão
A Reatech surpreende por inovar em produtos e equipamentos, mas preços são
proibitivos para a maioria
A quinta edição da Reatech – Feira Internacional de Tecnologias em
Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade – foi realizada em São Paulo entre os
dias 6 e 9 de abril, atraindo cerca de 30 mil visitantes. Maior evento do gênero
da América Latina, contou com a participação de 120 empresas e entidades
voltadas ao atendimento e defesa dos direitos das pessoas com deficiências.
Mas, mesmo com o visível crescimento do setor no País (nesta edição aumentou
em 10% o total de expositores, segundo a organização do evento) e dos
investimentos que permitem avanços tecnológicos na concepção de produtos e
equipamentos voltados à acessibilidade, os preços são inacessíveis para a
maioria dos brasileiros.
“A Reatech é de grande importância para as pessoas com deficiência. Serve
inclusive como ponto de encontro a elas, e oferece produtos para melhorar a
qualidade sua qualidade de vida. Mas o que se constata é que o acesso a estes
produtos ainda é elitizado, está restrito a uma minoria”, afirma Tuca Munhoz, 48
anos, presidente da MID, organização não-governamental que luta pela
participação social e direitos das pessoas com deficiência.
Caros demais – Um desses direitos, lembra Munhoz, é
justamente o acesso à tecnologia. “É preciso criar políticas públicas que tornem
isso possível”, aponta, lembrando iniciativas do âmbito do governo federal. “O
fortalecimento das ações que o governo federal tem implementado, através da
Corde (Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência), dos ministérios das Cidades e da Ciência e Tecnologia, entre
outros, são muito importantes para chegarmos a uma situação que garanta o acesso
universal. Há, porém um grande vácuo de ações e programas dos governos
municipais. São raríssimos os municípios no Brasil que desenvolvem programas de
políticas públicas para pessoas com deficiência”, avalia.
A excelente performance tecnológica da Reatech, portanto, ainda está longe de
se repetir quando o assunto é inclusão. Entre os vários produtos apresentados
nesta última feira, estava, por exemplo, o dispositivo que facilita a colocação
da cadeira de rodas sobre o carro e a retorna ao lado da porta. O preço: R$ 12
mil.
Ou, ainda, o celular dotado de palm top, gravador e sistema GPS, que
facilitaria a vida dos que não enxergam, por nada menos que R$ 8 mil. “As
pessoas com deficiência em geral já são excluídas do mercado do trabalho”,
destaca Munhoz. Ou seja: muitas vezes sobrevivem sequer sem um salário, o que
aumenta as dificuldades na hora de adquirir até produtos básicos para seu
dia-a-dia.
Mesmo fora das novidades da Reatech, equipamentos indispensáveis para a
pessoa com deficiência têm custo elevado. Uma cadeira de rodas manual, por
exemplo, sai por mais de R$ 150; uma para banho pode sair por R$ 700 e uma
motorizada por até mais de R$ 13 mil.
Alguns produtos da feira em 2006
– Cadeira de rodas motorizada que sobe escadas;
– Adaptação do assento da cadeira de roda ao assento do carro; novo modelo de
embreagem (eletrônica computadorizada). Uma nova tecnologia italiana também
possibilita fazer adaptações, como rebaixamento de piso, levantamento de teto e
largura das portas em minivans como a Doblô e vans como a Ducatto;
– Gancho (braço mecânico) para colocar e retirar pessoas com deficiência de
dentro de piscina;
– Cadeira de rodas motorizada que possibilita ficar na posição vertical;
– Cadeiras de rodas especiais para práticas esportivas, como tênis, basquete,
atletismo;
– Prótese de joelho computadorizada;
– Mão myoelétrica (ligada aos nervos dos braços, dá movimentação aos
dedos);
– Lupa eletrônica para pessoas com baixa visão, que amplia caracteres