Tem empresário esperto forçando a mão por lucros, afirma ministro do Trabalho

Para Carlos Lupi, essa estratégia não é a melhor, pois a empresa terá dois custos: para demitir e para recontratar alguns meses depois

Alguns empresários podem estar forçando a mão nas demissões para pressionar o governo a adotar medidas de socorro, disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Para ele, essa estratégia não é a melhor, pois a empresa terá dois custos: para demitir e para recontratar alguns meses depois. “O mercado de trabalho terá índices ruins em dezembro, janeiro e fevereiro. Mas já em março, começará a se recuperar e vai fechar o ano com 1,5 milhão de novas vagas. É uma onda de espuma”, disse.

O sr. acha que a crise acaba logo?
Não dura mais que dois meses. Minha previsão é que em março a gente volte a ter crescimento bom no emprego. Por isso, o empresariado tem de ter muita cautela na hora de demitir, porque senão vai ter duas despesas: para demitir e contratar de novo. Por quê? Porque o mercado brasileiro continua aquecido. O empresariado tem de ter um diálogo permanente com o trabalhador, buscar saídas inteligentes, que não levem a demissões.

Que espuma é essa?
A espuma é nada. Isso é filosofia de vida de carioca. Quando a gente olha para o mar, vê aquela onda, parece que vai matar todo mundo, mas, na beira da areia, ela é nada.

Outra marolinha, ministro?
É uma onda. E de espuma. É claro que a crise tem efeito no Brasil. Mas temos condições diferenciadas, como reconhecem todos os países. Tivemos um dezembro que foi o pior da história.

É fato que foram fechadas 600 mil vagas em dezembro?
Não tenho números finais, mas (a queda) é muito forte.

Muito mais que as 300 mil vagas que são fechadas sazonalmente em dezembro?
Muito forte, muito mais que a média.

Falar em 600 mil é exagero?
Não posso afirmar, não quero correr riscos. Os números estão sendo fechados, na segunda-feira que vem eu anuncio. Mas a previsão é muito ruim. Eu já achava que ia ser ruim, mas nem tanto. E, em janeiro e fevereiro, teremos meses fracos de contratação, não teremos dois meses fortes como foi em 2008. Mas março começa a reaquecer. Estou adivinhando? Não. Porque é da natureza de uma economia que teve retração.

Por que janeiro e fevereiro serão fracos?
Janeiro e fevereiro são meses sem grandes investimentos, não há lançamentos imobiliários, está todo mundo de férias. Cresce a área de serviços, de lazer, hotelaria. Mas a área que emprega mesmo não vai crescer tanto. Em março, começa uma nova etapa. A etapa em que o mundo já se arrumou, o governo já vai ter uma ideia dos resultados das medidas que vem tomando desde outubro. Acho que a partir de março retomamos a geração de empregos forte. Chegaremos a 1,5 milhão este ano.

É verdade que, na conversa com o presidente Lula, foi discutida a possibilidade de novas desonerações tributárias para setores intensivos de mão-de-obra?
Não foi discutido. O presidente está examinando propostas, quer dados detalhados para saber que medidas tomará. A minha moeda é o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, elaborado pelo Ministério do Trabalho, que registra abertura e fechamento de vagas com carteira assinada). Eu trabalho com emprego, então, tenho de levar os meus dados divididos por área, setor, região, para que a gente possa ter, com esses dados, medidas focadas. Em cima disso, o presidente vai fazer com que a equipe econômica trabalhe e poderá haver novas isenções (tributárias). Na meca do capitalismo do mundo, que são os Estados Unidos, o governo está liberando alguns bilhões para a GM e a Ford, exigindo garantia de emprego.

Aqui, não foi exigido isso. O governo errou?
Só posso responder pela área pela qual tenho responsabilidade. Na área do Ministério do Trabalho, para os recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) será exigida a contrapartida de garantia de emprego. Só posso responder pela minha área. Na minha área, vai ser exigido.

O que mais pode ser feito? O sr. falou na possibilidade de ampliar o pagamento do seguro-desemprego, mas isso é paliativo, não?
É, e é setorizado. O governo tem de ver as macropolíticas. Baixar a taxa de juros é fundamental, mas os bancos privados também têm de baixar as suas taxas. Não adianta o Copom (Comitê de Política Monetária, que define a taxa de juros básica da economia, a Selic) sair baixando os juros se os bancos privados continuarem com taxas na estratosfera. Ou os bancos privados entendem que têm de baixar a taxa de juros para continuar ganhando dinheiro ou eles também vão perder dinheiro. Não adianta cobrar só o governo.

O sr. acha que os empresários estão sendo precipitados em demitir?
Muitos estão.

Eles estão forçando a mão para pressionar o governo?
Forçando a mão para pressionar, ganhar uma margem de lucro maior…Tem “espertos”. Só que a sociedade não é mais de “espertos”, não.

Do Estado de São Paulo